terça-feira, 25 de setembro de 2007

O QUE FALTA NA EDUCAÇÃO?

PROVÁVEIS CAUSAS DOS PROBLEMAS NA EDUCAÇÃO
Me ocorreu escrever um resumo do que identifiquei, até aqui, como problemas fundamentais da educação e, por conseqüência, da humanidade.
VONTADE
PREPOTÊNCIA
PRECONCEITOS
BUROCRACIA

O não identificar os efeitos que a VONTADE pode provocar, leva a buscar soluções, para o que ela causa, em outras coisas. Diagnóstico errado, provoca ações em causas irreais, portanto, o problema continuará existindo uma vez que a causa verdadeira continua intocada.
A PREPOTÊNCIA impede o questionamento, impedindo que o erro seja constatado, fazendo crer desnecessária a investigação para buscar soluções.
Os PRECONCEITOS são incentivados pela prepotência e, eles a apoiam, concretizando os efeitos danosos.
A BUROCRACIA exagerada, exige uma série de atividades que ocupam muitos recursos, retirando-os da atividade principal. Ela tende a engessar a atividade principal, dificultando a criatividade e conseqüentes mudanças.

Acredito que os principais problemas da educação, estão na disciplina e na comunicação.
A disciplina é necessária para o respeito a deveres e direitos. Ela é necessária para administrar vontades que tentam satisfação, independente dos prejuízos que possam causar. O ideal é conseguir a disciplina através da conscientização, no entanto, quando isso se mostrar insuficiente, é necessário impedir que as vontades provoquem sofrimentos e prejuízos. Para tanto, devem ser usados os meios que se fizerem necessários, sem exageros. Na medida da necessidade, nunca além dela. Disciplina não deve ser confundida com autoritarismo. Ela é o fundamento para o respeito aos direitos e deveres do indivíduo.
A comunicação é fundamental para que conhecimentos e idéias possam ser transmitidas e assimiladas. Sem capacidade de interpretação, o aluno terá enorme dificuldade para assimilar os conhecimentos que lhe forem disponibilizados. Sem capacidade de exposição, ele terá dificuldade para transmitir suas idéias. Portanto, a dificuldade de comunicação, dificulta a assimilação de conhecimento, o questionamento, o aprimoramento e a evolução. Não capacitar o aluno para a comunicação, é torná-lo escravo de um universo reduzido e composto de tabus e preconceitos.

Grande parte dos alunos vai a escola como quem se submete a um grande sacrifício e, só o fazem porque são obrigados. Outros tantos, vão para brincar e Ter contato com os colegas. São raríssimas exceções os que compreendem a importância da educação. A educação não tem conseguido motivar o educando. O ideal seria que o aluno sentisse prazer em aprender, como o prazer das brincadeiras.
Afrontar a disciplina é conseqüência da vontade que repudia interferências que tentem impedir sua satisfação. Por outro lado, é o repúdio a submeter-se a vontades que não tem.
Conseguir incentivar as vontades positivas e reprimir as negativas, é o ideal para conseguir o máximo de felicidade e harmonia, minimizando sofrimentos e desavenças.
Se o indivíduo compreender essa necessidade e se dispuser a colaborar nesse sentido, a solução da maioria dos problemas acontecerá com maior facilidade, até porque, grande parte deles não chegará a acontecer.
Para que o indivíduo compreenda isso, é necessário que ele compreenda o que acontece dentro de si, interpretando as indicações, analisando-as racionalmente e decidindo com dignidade, baseado na justiça, na luta pelos direitos e disposição para assumir os deveres.
Para compreender é necessário Ter conhecimentos, para conhecer é preciso Ter capacidade de assimilá-los, o que exige interpretar bem a sua transmissão. O ideal é que o transmissor explicite claramente a informação e que o receptor a capte sem distorções. Para saber se isso aconteceu, é importante que o receptor diga o que entendeu e o transmissor confirme que não houve distorção no entendimento. Portanto, tanto transmissor, quanto receptor, devem possuir capacidade de comunicação.
O questionamento é possível, importante e salutar. No entanto, ele chega a ser desperdício de tempo e esforço, quando causado por deficiência de comunicação. O transmissor diz uma coisa, o receptor entende outra, ocasionando uma discussão, onde um defende uma coisa e o outro contesta outra. Discutirão sobre coisas diferentes, considerando que se referem à mesma, por pura incapacidade de comunicação. O receptor entendeu erradamente o que lhe foi transmitido. O transmissor não percebeu que o receptor interpretou erradamente o que ele lhe transmitiu. O receptor acredita que entendeu bem o que o transmissor lhe passou e o transmissor também acredita nisso. O receptor poderá atacar o que entendeu, enquanto o transmissor defenderá o que pretendeu transmitir. São duas coisas diferentes. É como se, em um jogo de futebol, cada time jogasse com uma bola, acreditando que jogavam com a mesma.
Boa parte dos problemas se originam na deficiência de comunicação. São inúmeros os exemplos que evidenciam isso.
O indivíduo precisa saber que isso é uma fonte de problemas e dispor-se a aprender o conhecimento existente que pode evitá-los.
Aprender comunicação é um processo lento. São vários os meios envolvidos na comunicação: visão, audição, tato, olfato, paladar, fala, escrita, signos, sentimentos, natureza, etc. É muito grande a quantidade de conhecimento já existente sobre isso. O indivíduo tem um ritmo de assimilação de conhecimentos, que o impede de acelerar o processo natural.
Enquanto aprende, o indivíduo deverá ser orientado, protegido e mantido sob controle, para evitar que se prejudique ou cause prejuízos a outros.
O aprendizado vai capacitando o indivíduo a conquistar graus cada vez mais elevados de autonomia, proporcional à responsabilidade que pode assumir. Isso exige alterações na disciplina no decorrer do tempo. Ela é sempre necessária, mas deverá ser diferenciada para condições, situações e capacidades diferentes.
A disciplina terá características diferentes quando se aplicar a crianças, adolescentes, adultos. Uma criança exigirá cuidados maiores que um adolescente que, por sua vez, os exigirá maiores do que um adulto. Um adulto terá direito a maior liberdade que um adolescente e, este, que uma criança, desde que tenham conhecimento e compreensão proporcionais.
Pelo exposto, verifica-se que o fundamental da educação é propiciar que o educando se capacite para a comunicação e que respeite a disciplina. Isso lhe propiciará aprender, compreender, questionar, modificar e criar, respeitando direitos e deveres.
Não se pode desconsiderar a particularidade das características dos indivíduos, que exige maleabilidade no trato com eles. É preciso identificar essas características incentivando as positivas e reprimindo as negativas. O indivíduo deve fazer parte desse processo, ajudando na identificação, buscando seu auto-conhecimento. A identificação de talentos é fundamental. Fazer algo para o que se tem talento, propicia prazer e felicidade, evitando sacrifícios e sofrimento. Uns têm facilidade para liderar enquanto, outros, preferem ser liderados. Uns são criativos enquanto, outros, se adaptam melhor a rotinas. Uns são apáticos enquanto, outros, são ansiosos. Em uns a emoção predomina enquanto, em outros, predomina a racionalidade. É difícil tratá-los igualmente como se fossem absolutamente iguais.
No entanto, é difícil, em um grupo, otimizar o tratamento individual. É necessário tratar o grupo sem desconsiderar o indivíduo.
Em um grupo de alunos, por exemplo, haverá os que tem tempos diferentes para assimilar informações. Se não for possível dispor de tempo extra para os que o necessitam; os que assimilam mais rapidamente terão que esperar. Como o tempo de escolaridade é comum a todos os alunos, é evidente que uns sairão com mais conhecimentos que os outros ou, conseguindo que todos consigam os mesmos conhecimentos, uns se esforçarão menos que os outros, resultando em perda de potencial. No entanto, se não houver alternativa, há que conformar-se com isso.
O razoável é que se aproveite o potencial do aluno, oferecendo condições diferenciadas. É natural que isso resultará em diferentes níveis de conhecimento e compreensão entre os egressos de um mesmo período escolar. Se isso for considerado injusto, é necessário oferecer períodos diferenciados. Na prática isso é muito difícil de se conseguir.
Se é praticamente impossível que o professor atenda as características individuais dos alunos, é importante que se explore ao máximo a potencial dos menos capacitados, enquanto se incentiva que os outros busquem, autodidaticamente, explorar seu potencial maior. A facilidade de comunicação permite isso. O aluno poderá pesquisar nos mais variados meios disponíveis, tanto material, quanto pessoal.
É preciso admitir a naturalidade da diferença entre indivíduos, porque é óbvia e não temos como interferir significativamente nela. Isso não pode ser usado para caracterizá-los como melhores ou piores, simplesmente são diferentes. Cada tipo de atividade exige conhecimentos específicos, mais ou menos abrangentes, em maior ou menor quantidade. Enquanto umas exigem maior conhecimento, outras exigem outras características. Umas exigem maior racionalidade, outras, maior emoção. Enquanto umas exigem grande número de informações, outras só exigirão coragem, esforço físico, condicionamento, em fim, características pessoais, independentes de maiores informações.
Historicamente, o conhecimento tem sido supervalorizado. Durante muito tempo ele era privilégio de uns poucos, que o sonegavam, mantinham-no como grande segredo. O conhecimento tem servido para dominar e explorar, propiciando grandes vantagens a quem o possuía. Os possuidores de conhecimento buscavam aumentá-lo ao mesmo tempo que se esforçavam para que a ignorância prevalecesse entre os não privilegiados.
Isso criou uma distorção na valorização do conhecimento. Ele é uma ferramenta e, como tal, serve para facilitar. Portanto, sua importância está ligada à utilidade. Não é a quantidade que propicia ajuda e, sim, a qualidade e a especificidade. Como isso pode ser variável no tempo e no espaço, para um mesmo indivíduo; o importante é que ele possa obter conhecimento na medida necessária, no tempo em que for exigido.
À educação cabe preparar o indivíduo para conseguir o conhecimento necessário, em qualquer tempo. O objetivo fundamental da educação é preparar o indivíduo para aprender, buscar o conhecimento necessário, interpretá-lo, questioná-lo, aperfeiçoá-lo e usá-lo. Essa capacidade é que diferencia os indivíduos e, não, a quantidade de conhecimento que possuam.
Há intelectuais que não são capazes de interpretar um manual de operação de um simples eletrodoméstico; que não conseguem interpretar a fala de uma pessoa ignorante, que se embaralham com os próprios sentimentos, embora conheçam muito de literatura, de ciência e de artes.
Portanto, a educação terá conseguido seu objetivo se conseguir que o indivíduo busque o conhecimento de que necessita para facilitar a vida e possa usá-lo com eficiência.

CONSTATAÇÕES
A infância é uma fase na vida de uma pessoa.
Nessa fase ocorrem grandes modificações físicas e mentais. A criança aprende a falar, andar; toma contato com a sociedade e a natureza, descobre emoções e sentimentos; em fim, é a fase em que acontecem grande número de modificações.
Muito do que acontecer na infância acompanhará o indivíduo pelo resto da vida e algumas coisas influenciarão significativamente o futuro.
Um bebê saudável é fonte de prazer e felicidade para os mais velhos. Todos sentem prazer em tocá-lo, pegá-lo, acariciá-lo, sentir a suavidade de sua pele, admirar sorrisos e, até, caretas. Quando começa a falar, é grande diversão para os que o circundam, o mesmo acontecendo quando começa a andar. Pode-se dizer que, nessa fase, a criança mais dá do que recebe.
Depois dessa fase a criança vai ganhando autonomia e começa a Ter negadas algumas de suas vontades, porque quer o que não pode ou porque não querem satisfaze-las.
Desde a mais tenra infância, a criança aprende a manipular situações e condições para tentar satisfazer suas vontades. Grande parte das manipulações se dirigem ao emocional de quem ela pretende conseguir a satisfação; seja enternecendo-o ou espicaçando-o.
A criança acaricia ou faz gracinhas para conseguir satisfação. Outra, provoca irritação e mal estar em quem pretende manipular, que atenderá seu desejo para livrar-se do incômodo. Outra se queixará de dores para conseguir algo ou livrar-se do indesejável. Parece ser inata essa capacidade de manipular, uma vez que dificilmente alguém as ensina a fazer isso.
Essa característica pode causar muitos problemas de convivência, obrigando ações para evitá-los ou resolvê-los. É hora da disciplina ser convocada para que direitos sejam respeitados e deveres sejam cumpridos.
A disciplina deve ser o mais simples possível, coerente, racional, necessária e suficiente. Isso é que o difícil de ser conseguido.
Cada indivíduo tem características particulares o que impede, praticamente, parâmetros rígidos de disciplina. Parece que o melhor é basear-se nos direitos e deveres, possibilitando discussão de controvérsias e conclusões sensatas. Quando não for possível o entendimento, alguém tem que decidir e assumir a responsabilidade. Claro que entre uma criança e um adulto, caberá a este tanto a decisão como a responsabilidade.
É comum que adultos tomem a decisão num problema com crianças, o que não é tão comum, é que assumam a responsabilidade por essa decisão. Um dos exemplos disso, é a chamada paternidade irresponsável, quando os pais decidem Ter o filho, mas procuram eximir-se da responsabilidade por ele. Outro exemplo, diz respeito a pais que atendem a desejos dos filhos, sem avaliar as conseqüências e não assumem a responsabilidade pelo que causaram, tentando incutir a culpa a outros motivos ou pessoas.
Um problema bastante comum é o ocasionado pela supervalorização do material, principalmente, do dinheiro que pode comprá-lo; em detrimento dos valores pessoais. Supervaloriza-se um presente, enquanto não se valoriza suficientemente um carinho, um reconhecimento, um ato de lealdade, de solidariedade, uma admiração, um afeto, um amor; em fim, coisas que tanto prazer provocam e tanta felicidade podem propiciar. Recompensa-se com presentes e castiga-se não os dando; em detrimento de valores pessoais que propiciariam efeitos muito melhores.
O pior castigo que se pode dar a uma criança, é um futuro sofrível, conseqüência de ações deletérias nos poucos anos da infância. Muito do que se considerou como benefício para a criança nos primeiros doze anos, poderão causar sofrimento pelo resto da vida que pode perdurar por cinqüenta anos ou mais.
Bens materiais e conforto são desejáveis, desde que não se esqueça do valor dos sentimentos e das características pessoais que os propiciam. O importante é o que o indivíduo sente, independente do que causa esse sentimento. Amor, carinho, reconhecimento ou admiração, podem causar muito mais felicidade que um presente caro.
É importante que a criança aprenda, o mais cedo possível, o poder da vontade e a dificuldade de satisfazer muitas delas. Compreendendo isso, a criança sofrerá menos frustrações, possibilitando isso ao adulto que será. Quem não compreender isso, acreditando que tem direito de satisfazer todas as vontades, terá muito a sofrer quando a verdade mostrar o contrário.
Educar é proteger sem superproteger, amar e acariciar sem mimar, é propiciar o possível e possibilitar compreender a impossibilidade, é exaltar a felicidade preparando a resistência ao sofrimento. É oferecer o máximo de condições para que o indivíduo assuma sua vida, aproveitando-a o melhor possível, lutando por seus direitos, respeitando os alheios, sem se negar aos deveres que lhe cabem.
Não incentivar o indivíduo a conhecer-se, identificar seu potencial positivo e negativo, negar-lhe conhecimentos que facilitem isso, pode ser considerado um crime hediondo, pois condena a muitos sofrimentos que poderiam ser evitados e desperdício de felicidade que poderia ser desfrutada.
Educar exige sacrifícios, tanto do educando quanto do educador. O esforço para minimiza-los deve ser feito, no entanto, não se deve aceitar que, descontos aqui, representem altos encargos futuros.

QUE É ISSO COMPAN HEIRO?

Acabo de ler o livro: “Que é isso companheiro?” de Fernando Gabeira. Me chamou a atenção para algumas particularidades que ocorrem na sociedade, por causa da mente humana, seus mistérios e as verdadeiras maluquices dela resultantes.
Durante a ditadura militar que sucedeu o golpe de sessenta e quatro; o governo desenvolveu um sistema de contra-terrorismo que acabou com os sonhos, ilusões e fantasias dos revolucionários que pretendiam desbancar a ditadura, aniquilar o capitalismo e implantar o socialismo na nossa terra.
Os revolucionários tinham em seus quadros pessoas inteligentes, intelectuais, valentes, dispostos a dar a própria vida em prol da causa que defendiam. Estudaram muitas táticas e estratégias de guerrilha, de como atrair ou despistar os adversários, de como divulgar suas idéias em busca de adeptos, de como identificar inimigos, etc.
Para combater a guerrilha, o governo montou um sistema composto pelas forças armadas, polícias militares e civis dos estados. Embora não se possa duvidar de que existiam patriotas e idealistas entre o repressores, não é razoável imaginar que superassem os revolucionários nessas qualidades.
Os revolucionários não dispunham de meios materiais para efetuar uma revolução armada. Afim de conseguir os meios necessários, entraram em ação, no que chamavam de guerrilha urbana, que consistia em praticar assaltos de vulto, para conseguir dinheiro e armas. Assaltavam bancos, carros pagadores, empresas industriais e comerciais.
Esses guerrilheiros eram de um idealismo extremado, verdadeiro fanatismo. Além da disposição para morrer pela causa, mantinham uma disciplina rígida no que diz respeito à segurança da instituição que defendiam. Tinham grande preocupação com o que, quem fosse preso, pudesse delatar os companheiros e o aparato que usavam.
Entre as ações de guerrilha urbana, seqüestraram cônsules e embaixadores, que trocaram por companheiros presos.
Os orgãos de repressão investigavam, prendiam e torturavam, acumulando informações que permitiram aniquilar a pretensão dos que pretendiam derrubar a ditadura pela luta armada.
Imagino que se os guerrilheiros tivessem usado a tática da repressão, de capturar e torturar, seqüestrando elementos da repressão que tivessem informações a fornecer; a história poderia Ter sido bem outra. A guerrilha poderia não Ter perdido tantos elementos, enquanto poderia Ter enfraquecido as forças repressoras.
Até essa época, eram raríssimos os assaltos de grande escala. Os guerrilheiros mostraram aos bandidos comuns que isso era possível e não difícil como imaginavam. A guerrilha terminou, mas os assaltos atrevidos continuaram e se multiplicaram, não mais por ideologias e, sim, por egoísmo.
Bandidos aprenderam muito, tanto com os terroristas como com os meios de repressão. Aprenderam técnicas e possibilidades que desconheciam.
Entre os revolucionários havia várias facções. Eram várias porque não eram capazes de concordar em ideais, métodos e técnicas. Todas as facções queriam derrubar a ditadura, mas, se tivessem conseguido, como governariam com tantas divergências?
A chamada esquerda, sempre lutou pelo que considerava melhor para o povo, principalmente os pobres que, sem dúvida, são a esmagadora maioria no mundo, principalmente no terceiro.
A direita, considera a incapacidade do indivíduo comum de decidir o que é melhor para ele. Considera que ele deverá ser conduzido, para o seu bem e, principalmente, para o bem de quem o conduz.
A diferença entre esquerda e direita, é que a primeira, pretende que os que pretende defender, cerrem fileiras e lutem pelo que os idealistas consideram direitos a conquistar. A direita não quer ação das massas, simplesmente quer obediência. Ao invés de luta, de sacrifício, pede paciência e obediência, prometendo satisfação de suas vontades.
A esquerda pede ação ao povo, que lute, que se arrisque para conseguir igualdade. A direita pede que o povo permaneça inerte, tranqüilo, que tenha paciência e obedeça, prometendo melhorias, crescimento sem limites, possibilidade de riqueza, de se sobressair, de se comparar e, até, ultrapassar a quem ele inveja.
As tentativas da esquerda para impor sua ideologia, é uma evidência de que o ser humano não prima pela solidariedade. Não pretende a igualdade, deseja sobressair, ser mais que os outros, ser reconhecido e admirado, ostentar poder e domínio. É a evidência do egoísmo sobre a solidariedade.
Enquanto o ser humano acreditar que a felicidade é resultado de conquista de bens materiais, dificilmente aceitará lutar por igualdade, defendendo a solidariedade. Enquanto ele cultuar o poder, dificilmente lutará contra ele, uma vez que seria lutar contra o que sonha conquistar.
A história mostra que o povo só lutou em revoluções e guerras, quando obrigado pelo poder ou quando considerou que não tinha mais nada a perder. Enquanto o indivíduo considerar que tenha algo a perder, por pouco que seja, relutará em arriscar. O egoísmo pretende conquistas, mas repudia o risco, a não ser que o benefício prometido seja compensador.
Antes de pedir ao povo que lute por igualdade, é necessário mostrar-lhe que isso pode ser fonte de felicidade. Que ela é o objetivo da vida e que depende da satisfação de vontades. . Que as características pessoais podem propiciar muita felicidade. Que os bens materiais propiciam felicidade, sim, mas a um custo muito alto e, muitas vezes, com custo/benefício extremamente prejudicial. Se o ser humano não puder acreditar nisso, o egoísmo continuará dominando-o em detrimento da solidariedade.
A solidariedade não impede conquistas. Elas fazem parte da vida e desejá-las parece inato ao ser humano. A diferença é que o egoísmo pretende que a conquista beneficie o indivíduo, enquanto a solidariedade, pretende distribuir o conquistado. Mesmo na solidariedade, sempre haverá a conquista individual, benéfica ao indivíduo e não prejudicial à coletividade.
O jogador de futebol, ao marcar um gol, estará ajudando seu time, enquanto recebe admiração, reconhecimento e elogios.
A cozinheira, preparando uma refeição saborosa, propiciará prazer a quem a degustar, a ela mesma e, ainda, receberá os elogios, admiração e reconhecimento.
O amor sexual é individual pra dois, sem prejuízos para a coletividade.

Há problemas, causados pelo mistério, imcompreensíveis ao entendimento humano, cujos males são inevitáveis. Quanto a isso, só resta tentar minimizar os efeitos e preparar-se para suportar as conseqüências. Ainda nesses casos, a solidariedade é muito mais benéfica do que o egoísmo.
Quando alguém se apaixona por alguém, que é amor de outra pessoa, o problema está criado e alguém sairá ferido. É praticamente impossível evitar o sofrimento. No entanto, a compreensão e a solidariedade poderão ajudar a minimizá-lo. O egoísmo, ao contrário, tenderá a provocar verdadeira tragédia, acentuando o sofrimento, intensificando-o e prolongando-o.

É evidente que o egoísmo tem prevalecido sobre a solidariedade, historicamente. O que provoca que, excepcionalmente, surjam pessoas que contrariam a regra e se dedicam a lutar pelo próximo, em detrimento de seus interesses pessoais, até, contra eles? Que repudiam o egoísmo e se entregam de corpo e alma à solidariedade?
O que fez com que Che Guevara, Martin Luter King, Madre Tereza de Caucutá, Frei Damião, entre outros; dedicassem sua vida ao próximo, integralmente, com o sacrifício da própria vida?
Não é difícil constatar, sem blasfema, que Gabeira e muitos de seus companheiros, sofreram mais que Jesus Cristo. Foram longo tempo de torturas físicas e psicológicas e, muitos, não sobreviveram. O que os levou a isso, enquanto a esmagadora maioria nem se interessava pelo que estava acontecendo?

Parte dos revolucionários era idealista, questionava a ditadura, suas causas, interesses e efeitos. Defendia teses que indicavam soluções e argumentavam em sua defesa. Por outro lado, havia os que eram crentes fanáticos, aceitavam a ideologia e a seguiam com fé, sem compreendê-la. Decoravam a doutrina e a pregavam com louvor e fanatismo.
Do lado da repressão, acontecia a mesma coisa. Havia idealistas que defendiam teses e argumentavam racionalmente para defendê-las. Outros, aceitavam a doutrina e a seguiam com fé.
A diferença fundamental é que os revolucionários acreditavam na capacidade do indivíduo para administrar sua vida e a sociedade, enquanto os reacionários, defendiam que o povo deve ser guiado, não tem capacidade para decidir pelo que lhe é melhor, tem que Ter a liberdade restringida para evitar que cometa erros e deve ser guiado pelos melhores caminhos.
Para os revolucionários, o povo teria que participar de tudo, discutindo, opinando, escolhendo, sendo ativo e participando de tudo. Os reacionários pretendiam que o povo fosse controlado, mantido afastado das discussões, obedecendo as orientações de um grupo de pessoas capacitadas a escolher e definir o que seria melhor para todos.
Uma evidência salta aos olhos: independente dos muitos erros cometidos pelos dois lados, parece que o fundamental foi que os revolucionários pretendiam a ação do povo, enquanto os reacionários exploraram sua inércia. A inércia ganhou de goleada.

Era de lei, o Zeca só levantava da cama depois que a mãe tirava as cobertas e lhe sapecava um tapa na bunda. Não precisava o segundo, um só bastava, bem forte.
Se a mãe não estivesse olhando, ele só lavava a escova de dentes, passava a ponta dos dedos molhados na cara, deixando a ramela no lugar e passava a mão nos cabelos.
Punha farinha de milho numa caneca de quase meio litro, até a metade, mais ou menos, e completava com leite quente, misturando um pouco de leite frio pra amornar. Metia a colher na caneca enchendo-a com a mistura, aproximava-a dos lábios e aspirava o conteúdo, como uma draga, fazendo o barulho característico, bem alto. Era difícil o dia em que ele não derramava um pouco da mistura na camiseta, que passava a mão por cima, como pra limpá-la, espalhando a mancha.
Pegava o caderno, sujo e com os cantos das folhas e capas arrepiadas, enfiava o lápis no bolso dizia um “bença mãe” e saia pro terreiro em direção à estrada por onde caminharia por meia hora até a escola.
Andava chutando as pedras do caminho, com o pé esquerdo chutava pra direita e com o direito pra esquerda. De vez em quando se abaixava, pegava uma pedra com a mão e a atirava em algo que lhe parecesse merecer a pedrada.
Numa manhã, ele percebeu um movimento no mato. Pegou uma pedra e atirou-a na direção do movimento. Escutou um grito de gente e correu como quem corre de alma penada.
A pedrada tinha acertado o seu Dito, que carpia a roça de milho na beira da estrada e, ao sentir vontade de descarregar a barriga, agachara-se atrás de uma moita. A pedrada acertara-o no joelho e ele caiu sentado sobre o que já havia descarregado. O joelho doera, mas o pior fôra o susto e a lambuzeira no traseiro.
Claro que ninguém teve dúvida sobre quem teria dado a pedrada.
Na volta da escola, o seu Dito o cercou na estrada com uma vara na mão. O Zeca parou a uma distância segura e perguntou com a cara mais inocente do mundo o porque do seu Dito estar bravo.
- Num si faiz di tonto seu capetado! Ocê mi acertô uma pedrada hoje cedo.
- Onde?
- Nu jueio!
- Mais, ondé Qui o siô tava?
- Atrais da moita.
- Fazeno u que?
- As necissidade ué!
- I cumé qui eu pudia sabê Qui u siô tava lá?
- I praquê ficá dano pedrada no mato?
- Oi seu Dito. Vô contá uma coisa pro siô. Tem um gambá que anda comeno os ovo das galinha da mãe. Faiz tempo Qui venho campiano ele. Hoji cedo vi ele travessano a istrada i entrá no mato. Catei a pedra e atirei nele. O siô num viu ele, quando tava baixado atraiz da moita?
- Num vi nada!
- Intão o mardito iscapô di novo! Nois precisa dá um jeito di matá esse mardito. Ele tá cumeno tudo os ovo da mãe i. num demora nada, vai comê os do siô tamém. O siô sabe que gambá é bicho disgraçado, num dá sucego i caba cos ovo e os pintinho. Nóis tem Qui dá um jeito di matá ele seu Dito!
- Dexa di safadeza muleque! Todo mundo sabi Qui ucê vive inventano estória pra discurpá as merda co cê faiz. Mai eu ocê num vai inrolá não. Vô ti acertá uma varada procê aprendê a num faze coisa errada. – e partiu pra cima do Zeca, que correu um pouco e se enfiou atrás de uma moita. Quando seu Dito corria de um lado, ele dava a volta na moita. Quando seu dito corria do outro, ela corria ao contrário, gritando para o seu Dito parar e ouvi-lo. Quando seu Dito cansou e parou, o Zeca disse:
- Eu sei Qui já inventei muita estória, seu Dito. Mas essa di agora num é inventada não! O siô pode acreditá! Pra Qui Qui eu ia dá uma pedrada no siô? Cumé Qui eu ia sabê Qui o siô tava atraiz da moita? Credita im mim seu Dito, juro pra arma da mãe Qui é verdade! – Enquanto falava, fazia cara de anjo, de coitado, de injustiçado, de dar pena.
Seu Dito balançou a cabeça, esfregou as orelhas com as palmas das mãos, olhou pra cara de anjo injustiçado que o Zeca fazia e pensou: “Quem sabe se daquela vez não era verdade?”. Voltou pra estrada dizendo:
- Oi Qui muleque! Cê toma vergonha nessa cara! Na próxima Qui ucê aprontá, vou te dá de pau. Num vai se di vara não! Vai se di pau!
Na escola, o Zeca era o tormento da professora. Vivia discordando do que ela dizia, com autoridade de quem sabe tudo. Argumentava de tal maneira que, muitas vezes, a professora chegava a duvidar da sua sanidade mental. Dela, pois o dele ela tinha certeza que estava destrambelhado.
Quando a professora ensinava a tabuada do dois, escreveu-a na louza e pedia para os alunos repetirem com ela: “duas vezes um, dois; duas vezes dois, quatro...duas vezes dez, vinte”. Pois, o Zeca levantou e disse, com todas as letras, que estav errado. Que dois é dois, não importa quantas vezes ele seja repetido. Dois é dois. Três vezes dois, é o dois três vezes, três dois. Cinco vezes dois é dois, cinco dois. Como é que o dois poderia virar outra coisa? Dois é dois, não importando quantas vezes, é dois.
A professora, de boca aberta, não conseguia falar diante de tamanho absurdo. O Zeca continuou argumentando em defesa da sua tese:
- Onde já se viu! Qué dize Qui duas melancia é uma abobra? Cinco laranja éum tomate? Deiz galinha é um bezerro? Discurpe fessora, mais u quei a siora tá dizeno, tá errado!
Outra vez, ao ensinar a operação de divisão, a professora perguntou ao Zeca:
- Se eu te der cinco balas para que você as divida por duas crianças, quantas balas sobrarão?
- Nenhuma fessora.
A professora repetia a pergunta e o Zeca, a mesma resposta. A professora pediu ao Zeca que se aproximasse da mesa, pegou cinco pedaços de giz e pediu que ele mostrasse a operação. Ele separou dois pedaços de um lado, dois do outro e enfiou o restante no bolso e concluiu:
- Dois pra cada um e um pra mim.
- Mas tinha que sobrar um.
- Mais a sinhora memo viu Qui num sobrô!
- Porque você guardou a sobra no bolso!
- Ué! Fui eu Qui fiz a divisão, intão fico co Qui sobrô, i num sobra nada. A siora tá veno argum pedaço de giz em cima da mesa?
Não havia argumentos que convencessem o Zeca do contrário. Ele apelava para os argumentos mais malucos, mas não arredava pé de suas convicções.
Quando a professora afirmou que a Terra girava em torno do sol, o Zeca quase morreu de rir. Gargalhava tanto, num ataque de riso, que chegou a cair da cadeira e continuou a gargalhar no chão. A professora mandava que parasse de rir, mas ele não parava. Não é que não quisesse, é que não conseguia. Não teve outro jeito: a professora colocou-o pra fora, até que a crise passasse. Quase no final da aula, quando a crise passara, a professora chamou-o e lhe perguntou sobre o que ocasionara aquela crise de riso.
- Ah fessora! A siora fala uma bobagem daquela i qué Qui a gente não ri?
- Que bobagem?
- Qui a Terra vira im vorta do sol.
- Mas é isso mesmo que acontece.
- Ah fessora! Cumé Qui é isso quei acontece? A gente vê tudo dia o sol aparecê atrás do morro do Bendito, passa por cima di nois i vai si iscondê por trais da pedra virada. Tudo mundo vê isso, só a siora Qui num vê?
- Isso, Zeca, é o que a gente vê, no entanto o que causa isso é o movimento da Terra em torno do sol. Parece que o sol é que está andando, mas na verdade, é o contrário: a Terra é que está girando em torno do sol.
- Fessora, a siora vai mi discurpá. Mais a siora acha Qui devo di acreditá nu Qui a siora fala, im veiz di acreditá nu Qui meus óio tá veno?
- Eu estou dizendo que é assim! E é assim! Isso está mais que provado pela ciência e não cabe discussão a respeito.
- Tá bom. Si a siora qué Qui eu diga Qui credito, eu digo. Mais, creditá mermo, num credito não! Meus óio tá veno uma coisa direitinho, o sol atravessano de um lado pro outro, e eu tenho Qui creditá Qui é a Terra Qui tá andando em vorta dele? Eu falo Qui credito, mas num credito não!
Dá pra imaginar o quanto o Zeca riu quando a professora disse que a Terra era redonda, uma bola com os pólos achatados. Mais uma vez ele teve que ser retirado da sala, o que, aliás, acontecia na maioria dos dias.
Ele não acredita, até hoje, que a Terra seja redonda, que quem vive no hemisfério sul, está de cabeça pra baixo e não cai. Como é que podia acreditar nisso, se ele estava empezinho ali na sala. Não teve argumento que o convencesse e ele continua acreditando que a Terra é uma espécie de disco, cheio de morros e buracos, mas que não é redonda, não é! Se fosse uma bola mesmo, já teria caído tudo; não haveria mais nada aqui. “Bestera bestera, bestera!” ele diz até hoje quando alguém se refere a isso.

Nenhum comentário: