quarta-feira, 18 de junho de 2008

A EDUCAÇÃO DO EDUCADOR

A EDUCAÇÃO DO EDUCADOR
Talvez, o maior problema da educação esteja no fato de que dão mais importância às teorias e métodos que ao objetivo principal e à individualidade dos envolvidos (professores e alunos).
O objetivo da educação deveria ser propiciar ao indivíduo aproveitar a felicidade que a vida propicia e evitar os dissabores que ela impõe. O conhecimento compreendido é ferramenta e arma para interferir na vida.
A felicidade é o objetivo da vida. Ela é propiciada pela satisfação de vontades. Se a felicidade depende da satisfação de vontades, o inverso não é tão verdadeiro. A satisfação de vontades nem sempre causa felicidade e, muitas vezes, gera sofrimento e prejuízos. A compreensão disso é fundamental e o conhecimento existente demonstra claramente essa afirmação, propiciando aproveitar o bom e minimizar o mau.
O conhecimento é um facilitador. É como o lubrificante que facilita o movimento, evitando atritos e desgastes desnecessários. Ele é de extrema importância para o funcionamento da máquina, bem como para sua durabilidade, no entanto, ele não tem utilidade em si mesmo. Sem ele a máquina não funciona como poderia, no entanto, sem a máquina o lubrificante não tem qualquer serventia.
O conhecimento acumulado pela humanidade é imenso. A dificuldade de comunicação e de armazenamento ocasionou a perda de muito conhecimento existente no passado. Muitos pesquisadores, hoje, quebram a cabeça tentando compreender como chineses e romanos, por exemplo, criaram, desenvolveram e construíram máquinas, embarcações, ferramentas e armas. Não se tem certeza sobre os métodos empregados para transportar o material e construir as pirâmides de Egito, entre outras obras monumentais. Isso demonstra a importância de armazenar o conhecimento.
Tão importante quanto o conhecimento é a sua acessibilidade. O armazenamento deve ser criterioso, permitindo o acesso na medida da necessidade. Portanto, é fundamental que quem precise acessar o conhecimento saiba que ele existe e como poderá ser encontrado.
A função mais importante da educação é mostrar ao indivíduo que o conhecimento é um facilitador da vida, o quanto ele pode facilitar felicidade e quantos dissabores pode evitar. Que para acessa-lo é indispensável a comunicação e conhecer os critérios de busca.
A comunicação permite que quem detém o conhecimento o transmita de maneira clara e objetiva; enquanto, quem o recebe, o entenda sem distorções. Ela pode se dar pela escrita, fala, gestos, desenhos, etc. A comunicação se dá através dos sentidos e sentimentos.
Devido à imensa quantidade de conhecimento existente, ele deve estar armazenado de maneira lógica, que permita ser acessado quando necessário. O sistema lógico que permita isso deve ser conhecido tanto por quem armazena como por quem pretenda acessa-lo.
Para que o indivíduo possa servir-se do conhecimento existente é necessário que saiba encontrá-lo e entendê-lo. Prepara-lo para isso deve ser o objetivo da educação.
Conhecimentos não devem ser considerados como verdades absolutas. Eles são fruto da capacidade humana, que é falível, portanto, sujeita a erro. Além disso, a recepção da informação está sujeita a interpretação que poderá divergir da do transmissor, distorcendo-a.
O conhecimento deve ser questionado até que seja compreendido e aceito. Para isso é necessário o uso da racionalidade, do pensamento lógico que considere os dados, os analise e permita conclusões.
A educação deve propiciar ao educando:
- Reconhecer a importância do conhecimento e sua utilidade.
- Reconhecer suas características individuais: deficiências, talentos e capacidade para controlar suas vontades.
- Capacidade de comunicação, recebendo e transmitindo com clareza.
- Capacidade para buscar conhecimento.
- Desenvolver o raciocínio lógico.
- Consciência de que não existem verdades absolutas, da falibilidade do ser humano, de que, se não é possível evitar erros, eles podem ser fonte de aprendizado.
- Compreender que a premissa para aprender é reconhecer não saber.
O PROFESSOR
O professor, além de ser um transmissor de conhecimentos básicos, deve ser um provocador de curiosidade, um orientador de caminhos e um guia seguro que leve o discípulo à auto-suficiência para buscar o conhecimento necessário.
Educar é mostrar que a vida é cheia de contradições e o quanto o conhecimento racionalizado pode ajudar a enfrentá-las. Todos gostam de saber, mas relutam em aprender o necessário para obter o saber.
Um indivíduo adoraria saber dirigir um carro ou pilotar um avião, no entanto, reluta em aprender o conhecimento necessário para isso. Se não for forçado a aprender o necessário, poderá tentar dirigir ou pilotar, sem estar capacitado para tal, correndo grande risco de frustrar-se, causar prejuízos e sofrimento.
O mesmo que acontece com o desejoso de ser motorista ou piloto, ocorre com a maioria dos que precisam de conhecimento. A relutância não está no saber, que eles até desejam; está no trabalho necessário para aprender, adquirir e compreender o conhecimento.
A maioria dos alunos gostaria de saber resolver problemas matemáticos, físicos, químicos, biológicos, etc.; no entanto, relutam fortemente a aprender os axiomas, regras, postulados, leis naturais, em fim, o conhecimento que lhe possibilita saber o que lhe interessa.
Quem não gostaria de escrever, falar corretamente, compreender tudo que ouve e lê? O que ele rejeita é o trabalho necessário para aprender ortografia e gramática. Se fosse possível injetar-lhe o conhecimento, sem que ele tivesse que se esforçar, o aceitaria de bom grado.
Quanto maior o desejo de saber, menor será o esforço necessário para aprender e maior será a disposição para esforçar-se em consegui-lo. Se isto é verdade, o inverso é tão verdadeiro quanto. Portanto, provocar desejo é fundamental, o que é possível despertando curiosidade, que poderá atiçar a motivação. Com motivação tudo é muito mais fácil.
Se o desejo de saber não for suficiente para provocar o aprendizado, serão necessários meios que o forcem. Impedir dirigir automóvel ou pilotar avião a quem não tenha aprendido o necessário, é uma maneira de forçar o aprendizado. A força, de qualquer tipo, deve ser o último recurso a ser usado na educação. Despertar desejo, demonstrar a necessidade e mostrar que o benefício compensa o custo; devem ser tentados ao extremo.
As teorias educacionais são importantes, os métodos, também; no entanto, como qualquer conhecimento, não são absolutos e devem ser adaptados sempre que isso for necessário e possível. O objetivo principal é conseguir que o indivíduo se sirva do conhecimento para a melhor qualidade de vida. É importante não exigir-lhe mais que o necessário, nem permitir-lhe negligenciar o indispensável.
Na escola, o responsável pela condução do aluno ao saber é o professor. Não há política, nem teoria, nem método, que impeçam os malefícios causados por um professor relapso, desinteressado e incompetente. Por outro lado, o bom professor superará até as dificuldades que o sistema possa lhe impor, conduzindo seus discípulos da melhor maneira possível.
A disponibilização e transmissão do conhecimento pode ser feita por vários meios, inclusive eletrônicos; no entanto, não há o que possa orientar e conduzir o aluno melhor que um bom professor. É ele quem interagirá sensivelmente com o aluno, percebendo-lhe as particularidades, ajudando-o a superar umas e aproveitar outras, incentivando, corrigindo; esforçando-se para que consiga o máximo possível. Isso é impossível a qualquer outro meio que não o relacionamento humano, embebido de sensibilidade e racionalidade.
O aluno precisa ser orientado a aproveitar sua potencialidade e conviver com suas deficiências. Não é razoável forçar demais o aluno a aprender o que tem dificuldade para assimilar, deixando de orienta-lo a buscar o conhecimento que facilitará o desenvolvimento para o que tem talento. A identificação do que é melhor para o indivíduo depende da interação sensível e racional entre ele e o orientador. Dificilmente uma máquina poderá realizar essa tarefa.
Se muito tem sido investido em pesquisa de políticas, teorias e métodos, o mesmo não aconteceu na formação e valorização do professor. Quando esse erro será corrigido? Quando se compreenderá que políticas, teorias e métodos, são ferramentas que, se não compreendidas e aceitas pelo professor; serão mal utilizadas e, ao invés de sucesso, produzirão fracassos?
Durante muitos séculos a humanidade acreditou que a solução dos seus problemas só era possível através da religião, de um poder divino. A partir do surgimento da ciência, muitos passaram a acreditar que ela possibilitaria a solução dos problemas, principalmente pelo progresso que conquistava.
Os problemas principais, que mais infelicitam o ser humano, continuam insolúveis. Não seria hora de investir no próprio ser humano, propiciando-lhe condições para que use sua capacidade e contribua para possibilitar o que ciência e religião não conseguiram?
Se o ser humano conseguir utilizar o conhecimento existente com racionalidade e sensibilidade, poderá resolver muitos de seus problemas e aprender a conviver com os inevitáveis.
Um dos maiores problemas do ser humano é não conseguir usar o conhecimento existente em seu benefício. Boa parte da culpa por isso cabe à educação e, o resto, a interesses escusos que se servem da ignorância para explorá-la.
O problema é que, muitas pessoas encarregadas de resolver os problemas da educação, não o compreendem e, outros, são beneficiários do atual sistema. Portanto, as dificuldades para mudanças não são poucas, nem pequenas.

As pessoas têm características individuais diferenciadas. Alguns armazenam e recuperam dados da memória com facilidade, enquanto, outros, tem grande dificuldade para isso. Enquanto alguns têm facilidade para raciocínio lógico, outros enfrentam dificuldade para consegui-lo. Há os que têm grande dificuldade de administrar suas vontades, enquanto, outros, a dominam grande parte delas sem dificuldade. Fisicamente, uns têm tendência a engordar, outros são magros por mais que comam ou sejam sedentários; há altos, baixos, fortes, fracos; uns com sentidos aguçados, enquanto, outros, os têm deficientes. Em fim, é grande a variação de características entre os indivíduos.
Em uma sala de aula, dificilmente se encontrarão três alunos com a maioria das características iguais. Talvez não se encontrem nem dois. Isso implica na impossibilidade de a escola guiar o aluno por todos os passos que ele precisa caminhar na busca do melhor aproveitamento de sua potencialidade. Reconhecendo essa impossibilidade, resta oferecer-lhe as condições que lhe permitam enfrentar essa caminhada, participando ativamente dela ao invés de esperar passivamente que o guiem em todos os passos.
Se as características são diferentes, é evidente que as necessidades também o serão. No entanto, algumas necessidades são fundamentais a qualquer um:
-COMUNICAÇÃO. Quanto maior a capacidade de comunicação, maior o universo de conhecimento que poderá acessar e maior facilidade terá para compreendê-lo. Ouvir, falar, escrever, ler, desenhar, gesticular, olhar, degustar, etc. Reconhecer as limitações e as potencialidades é fundamental para aproveitar ao máximo a capacidade de comunicação.
-AUTOCONHECIMENTO. Quanto mais o indivíduo conhecer suas características, maiores as chances de defender-se das negativas e aproveitar as positivas. Saber lidar com dificuldades e limitações, aproveitar talentos é o melhor que alguém pode fazer. É importante que ele saiba que ninguém é melhor ou pior, como um todo. Cada um é melhor em algumas coisas e pior em outras. O valor é sempre relativo e depende basicamente dos sentimentos que desperta ou de análises lógicas. O que tem grande valor para alguns, pode não ter qualquer valor para outros. Portanto, não há como dizer que alguém é melhor ou pior que outrem. A única evidência é que são diferentes. O importante é que cada um seja o melhor possível, que não desperdice capacidades e não pretenda o que não pode.
-SOCIEDADE. É praticamente impossível ao ser humano viver isoladamente. Ele é um ser social. O convívio em sociedade implica na relação entre os diferentes. Interesses diferentes tendem a gerar conflitos se não houver limitações. Leis e regras tentam estabelecer limites para evitar conflitos, no entanto, o fundamental é que os indivíduos tenham consciência de direitos e deveres; que o direito de um termina onde começa o de outro. É tão natural querermos o máximo, quanto impossível consegui-lo. O direito de outros limita a satisfação pretendida por nossa vontade. O respeito a direitos e deveres é o que se chama de disciplina.
MEIO AMBIENTE. Perceber o meio ambiente em que vivemos é muito importante para que possamos aproveitá-lo, evitando causar-lhe agressões desnecessárias.
RACIOCÍNIO. Não importa a capacidade racional do indivíduo, o importante é que ele saiba usá-la da melhor maneira.
CONHECIMENTO. O conhecimento é uma ferramenta capaz de facilitar a vida. É importante identificar o conhecimento necessário, saber buscá-lo, compreendê-lo e usá-lo. O valor do conhecimento está relacionado com sua utilidade. Ostentar conhecimento como um valor em si, não é razoável.
Se a educação conseguir que o indivíduo consiga se COMUNICAR bem, CONHECER-SE, conviver harmoniosamente em SOCIEDADE, conhecer e respeitar o MEIO AMBIENTE, conseguir usar a RACIONALIDADE e buscar o conhecimento necessário; terá cumprido seu papel.