sábado, 23 de agosto de 2008

A EDUCAÇÃO ERA MELHOR

A EDUCAÇÃO ERA MELHOR
Há anos venho escutando que a educação, antigamente, era melhor.
Havia muito menos recursos e poucos tinham acesso à escola. Mesmo assim, as pessoas eram mais capacitadas, produziam mais e geravam menos problemas.
É verdade. É tão evidente que não há como negar. No entanto, me perguntei: o que aquela educação tinha de diferente?
As matérias e os conteúdos não eram em quantidade maior do que agora. Pelo contrário, os recursos eram bem menores, muito mais limitados.
A grande diferença está no comprometimento dos indivíduos, tanto educadores quanto educandos. Os educadores se empenhavam em ensinar e, os educandos, em aprender. Havia um compromisso com o objetivo e as pessoas o assumiam com responsabilidade. Isso acontecia menos por consciência e mais por princípios morais, pela aceitação de valores como verdadeiros paradigmas.
A mudança não está nos conteúdos, nas teorias, nas técnicas de ensino, nos recursos disponíveis e, sim, na personalidade dos indivíduos, na disposição para enfrentar dificuldades, para lutar pelos objetivos.
A questão seguinte foi: Por que aconteceu essa mudança nos indivíduos?
Valores assumidos como verdadeiros paradigmas, que deixaram de sê-lo. Autoritarismo que impingia esses valores, considerando-os inquestionáveis.
Crianças eram obrigadas a obedecer. Autoridade de pais e professores era inquestionável. Respeitar os mais velhos era obrigação, merecessem esse respeito ou não. Nada de democracia.
Sacrifico infantil e adolescente, como investimento para formar adultos responsáveis e com maior autonomia.
Crianças trabalhavam pra ajudar no orçamento da família e pra aprenderem profissões, responsabilidade e compromisso. A maioria delas nunca deixou de brincar, até mesmo porque, criança brinca com qualquer coisa e em qualquer condição; inclusive no trabalho.
Será que as crianças, hoje, são mais felizes do que eram antes?
Uma coisa parece evidente: exceções serviram de base para as reformas realizadas no tratamento das crianças e adolescentes. Para tentar eliminar o trabalho escravo, eliminou-se a possibilidade de qualquer tipo de trabalho. Para tentar evitar violência e maus tratos, proibiu-se atitudes necessárias para corrigir distorções. Em fim, para proteger a criança e o adolescente, escancarou-se a formação de adultos deformados e geradores de inúmeros problemas.
Várias teorias têm sido experimentadas e colocadas em prática, sem que se perceba mudança significativa de rumo.
Parece que o problema não está no conhecimento ou na maneira com que ele é transmitido e, sim, na personalidade dos indivíduos envolvidos: pais, professores, alunos e comunidade em geral. Em indivíduos egoístas, prepotentes e sem disciplina; dificilmente algum método ou teoria terá sucesso na formação de cidadãos competentes e responsáveis.
O direito de um termina onde começa o de outro. As crianças e adolescentes aprenderam com muita facilidade a exigir direitos, mas reagem a respeitar o direito alheio e, principalmente, assumir a responsabilidade por seus deveres.
Será que só existem duas possibilidades: autoritarismo e violência, ou libertinagem e desrespeito? Não será possível associar as coisas boas dos dois regimes e combater os males identificados?
É preciso dar mais atenção à formação do indivíduo, da sua personalidade, do seu caráter, da compreensão de valores e da importância da disciplina. Sem isso, dificilmente o indivíduo poderá dar utilidade ao conhecimento conseguido.
A pior violência que se pode cometer é permitir que o indivíduo acredite saber o que não sabe, ter direitos que não tem, poder o que não pode; ser auto-suficiente, quando depende da convivência para sobreviver.
Infelizmente o mau uso da autoridade por governos ditatoriais, usando e abusando da violência física e moral para submeter os indivíduos a sua vontade, pintou de negro a disciplina, transformando-a em vilã. A vítima foi condenada! O desrespeito a direitos é a maior evidência de indisciplina. A disciplina foi o grande bode espiatório dos desmandos do autoritarismo.
Violência NÂO! Irresponsabilidade, MENOS AINDA!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A EDUCAÇÃO DO EDUCADOR

A EDUCAÇÃO DO EDUCADOR
Talvez, o maior problema da educação esteja no fato de que dão mais importância às teorias e métodos que ao objetivo principal e à individualidade dos envolvidos (professores e alunos).
O objetivo da educação deveria ser propiciar ao indivíduo aproveitar a felicidade que a vida propicia e evitar os dissabores que ela impõe. O conhecimento compreendido é ferramenta e arma para interferir na vida.
A felicidade é o objetivo da vida. Ela é propiciada pela satisfação de vontades. Se a felicidade depende da satisfação de vontades, o inverso não é tão verdadeiro. A satisfação de vontades nem sempre causa felicidade e, muitas vezes, gera sofrimento e prejuízos. A compreensão disso é fundamental e o conhecimento existente demonstra claramente essa afirmação, propiciando aproveitar o bom e minimizar o mau.
O conhecimento é um facilitador. É como o lubrificante que facilita o movimento, evitando atritos e desgastes desnecessários. Ele é de extrema importância para o funcionamento da máquina, bem como para sua durabilidade, no entanto, ele não tem utilidade em si mesmo. Sem ele a máquina não funciona como poderia, no entanto, sem a máquina o lubrificante não tem qualquer serventia.
O conhecimento acumulado pela humanidade é imenso. A dificuldade de comunicação e de armazenamento ocasionou a perda de muito conhecimento existente no passado. Muitos pesquisadores, hoje, quebram a cabeça tentando compreender como chineses e romanos, por exemplo, criaram, desenvolveram e construíram máquinas, embarcações, ferramentas e armas. Não se tem certeza sobre os métodos empregados para transportar o material e construir as pirâmides de Egito, entre outras obras monumentais. Isso demonstra a importância de armazenar o conhecimento.
Tão importante quanto o conhecimento é a sua acessibilidade. O armazenamento deve ser criterioso, permitindo o acesso na medida da necessidade. Portanto, é fundamental que quem precise acessar o conhecimento saiba que ele existe e como poderá ser encontrado.
A função mais importante da educação é mostrar ao indivíduo que o conhecimento é um facilitador da vida, o quanto ele pode facilitar felicidade e quantos dissabores pode evitar. Que para acessa-lo é indispensável a comunicação e conhecer os critérios de busca.
A comunicação permite que quem detém o conhecimento o transmita de maneira clara e objetiva; enquanto, quem o recebe, o entenda sem distorções. Ela pode se dar pela escrita, fala, gestos, desenhos, etc. A comunicação se dá através dos sentidos e sentimentos.
Devido à imensa quantidade de conhecimento existente, ele deve estar armazenado de maneira lógica, que permita ser acessado quando necessário. O sistema lógico que permita isso deve ser conhecido tanto por quem armazena como por quem pretenda acessa-lo.
Para que o indivíduo possa servir-se do conhecimento existente é necessário que saiba encontrá-lo e entendê-lo. Prepara-lo para isso deve ser o objetivo da educação.
Conhecimentos não devem ser considerados como verdades absolutas. Eles são fruto da capacidade humana, que é falível, portanto, sujeita a erro. Além disso, a recepção da informação está sujeita a interpretação que poderá divergir da do transmissor, distorcendo-a.
O conhecimento deve ser questionado até que seja compreendido e aceito. Para isso é necessário o uso da racionalidade, do pensamento lógico que considere os dados, os analise e permita conclusões.
A educação deve propiciar ao educando:
- Reconhecer a importância do conhecimento e sua utilidade.
- Reconhecer suas características individuais: deficiências, talentos e capacidade para controlar suas vontades.
- Capacidade de comunicação, recebendo e transmitindo com clareza.
- Capacidade para buscar conhecimento.
- Desenvolver o raciocínio lógico.
- Consciência de que não existem verdades absolutas, da falibilidade do ser humano, de que, se não é possível evitar erros, eles podem ser fonte de aprendizado.
- Compreender que a premissa para aprender é reconhecer não saber.
O PROFESSOR
O professor, além de ser um transmissor de conhecimentos básicos, deve ser um provocador de curiosidade, um orientador de caminhos e um guia seguro que leve o discípulo à auto-suficiência para buscar o conhecimento necessário.
Educar é mostrar que a vida é cheia de contradições e o quanto o conhecimento racionalizado pode ajudar a enfrentá-las. Todos gostam de saber, mas relutam em aprender o necessário para obter o saber.
Um indivíduo adoraria saber dirigir um carro ou pilotar um avião, no entanto, reluta em aprender o conhecimento necessário para isso. Se não for forçado a aprender o necessário, poderá tentar dirigir ou pilotar, sem estar capacitado para tal, correndo grande risco de frustrar-se, causar prejuízos e sofrimento.
O mesmo que acontece com o desejoso de ser motorista ou piloto, ocorre com a maioria dos que precisam de conhecimento. A relutância não está no saber, que eles até desejam; está no trabalho necessário para aprender, adquirir e compreender o conhecimento.
A maioria dos alunos gostaria de saber resolver problemas matemáticos, físicos, químicos, biológicos, etc.; no entanto, relutam fortemente a aprender os axiomas, regras, postulados, leis naturais, em fim, o conhecimento que lhe possibilita saber o que lhe interessa.
Quem não gostaria de escrever, falar corretamente, compreender tudo que ouve e lê? O que ele rejeita é o trabalho necessário para aprender ortografia e gramática. Se fosse possível injetar-lhe o conhecimento, sem que ele tivesse que se esforçar, o aceitaria de bom grado.
Quanto maior o desejo de saber, menor será o esforço necessário para aprender e maior será a disposição para esforçar-se em consegui-lo. Se isto é verdade, o inverso é tão verdadeiro quanto. Portanto, provocar desejo é fundamental, o que é possível despertando curiosidade, que poderá atiçar a motivação. Com motivação tudo é muito mais fácil.
Se o desejo de saber não for suficiente para provocar o aprendizado, serão necessários meios que o forcem. Impedir dirigir automóvel ou pilotar avião a quem não tenha aprendido o necessário, é uma maneira de forçar o aprendizado. A força, de qualquer tipo, deve ser o último recurso a ser usado na educação. Despertar desejo, demonstrar a necessidade e mostrar que o benefício compensa o custo; devem ser tentados ao extremo.
As teorias educacionais são importantes, os métodos, também; no entanto, como qualquer conhecimento, não são absolutos e devem ser adaptados sempre que isso for necessário e possível. O objetivo principal é conseguir que o indivíduo se sirva do conhecimento para a melhor qualidade de vida. É importante não exigir-lhe mais que o necessário, nem permitir-lhe negligenciar o indispensável.
Na escola, o responsável pela condução do aluno ao saber é o professor. Não há política, nem teoria, nem método, que impeçam os malefícios causados por um professor relapso, desinteressado e incompetente. Por outro lado, o bom professor superará até as dificuldades que o sistema possa lhe impor, conduzindo seus discípulos da melhor maneira possível.
A disponibilização e transmissão do conhecimento pode ser feita por vários meios, inclusive eletrônicos; no entanto, não há o que possa orientar e conduzir o aluno melhor que um bom professor. É ele quem interagirá sensivelmente com o aluno, percebendo-lhe as particularidades, ajudando-o a superar umas e aproveitar outras, incentivando, corrigindo; esforçando-se para que consiga o máximo possível. Isso é impossível a qualquer outro meio que não o relacionamento humano, embebido de sensibilidade e racionalidade.
O aluno precisa ser orientado a aproveitar sua potencialidade e conviver com suas deficiências. Não é razoável forçar demais o aluno a aprender o que tem dificuldade para assimilar, deixando de orienta-lo a buscar o conhecimento que facilitará o desenvolvimento para o que tem talento. A identificação do que é melhor para o indivíduo depende da interação sensível e racional entre ele e o orientador. Dificilmente uma máquina poderá realizar essa tarefa.
Se muito tem sido investido em pesquisa de políticas, teorias e métodos, o mesmo não aconteceu na formação e valorização do professor. Quando esse erro será corrigido? Quando se compreenderá que políticas, teorias e métodos, são ferramentas que, se não compreendidas e aceitas pelo professor; serão mal utilizadas e, ao invés de sucesso, produzirão fracassos?
Durante muitos séculos a humanidade acreditou que a solução dos seus problemas só era possível através da religião, de um poder divino. A partir do surgimento da ciência, muitos passaram a acreditar que ela possibilitaria a solução dos problemas, principalmente pelo progresso que conquistava.
Os problemas principais, que mais infelicitam o ser humano, continuam insolúveis. Não seria hora de investir no próprio ser humano, propiciando-lhe condições para que use sua capacidade e contribua para possibilitar o que ciência e religião não conseguiram?
Se o ser humano conseguir utilizar o conhecimento existente com racionalidade e sensibilidade, poderá resolver muitos de seus problemas e aprender a conviver com os inevitáveis.
Um dos maiores problemas do ser humano é não conseguir usar o conhecimento existente em seu benefício. Boa parte da culpa por isso cabe à educação e, o resto, a interesses escusos que se servem da ignorância para explorá-la.
O problema é que, muitas pessoas encarregadas de resolver os problemas da educação, não o compreendem e, outros, são beneficiários do atual sistema. Portanto, as dificuldades para mudanças não são poucas, nem pequenas.

As pessoas têm características individuais diferenciadas. Alguns armazenam e recuperam dados da memória com facilidade, enquanto, outros, tem grande dificuldade para isso. Enquanto alguns têm facilidade para raciocínio lógico, outros enfrentam dificuldade para consegui-lo. Há os que têm grande dificuldade de administrar suas vontades, enquanto, outros, a dominam grande parte delas sem dificuldade. Fisicamente, uns têm tendência a engordar, outros são magros por mais que comam ou sejam sedentários; há altos, baixos, fortes, fracos; uns com sentidos aguçados, enquanto, outros, os têm deficientes. Em fim, é grande a variação de características entre os indivíduos.
Em uma sala de aula, dificilmente se encontrarão três alunos com a maioria das características iguais. Talvez não se encontrem nem dois. Isso implica na impossibilidade de a escola guiar o aluno por todos os passos que ele precisa caminhar na busca do melhor aproveitamento de sua potencialidade. Reconhecendo essa impossibilidade, resta oferecer-lhe as condições que lhe permitam enfrentar essa caminhada, participando ativamente dela ao invés de esperar passivamente que o guiem em todos os passos.
Se as características são diferentes, é evidente que as necessidades também o serão. No entanto, algumas necessidades são fundamentais a qualquer um:
-COMUNICAÇÃO. Quanto maior a capacidade de comunicação, maior o universo de conhecimento que poderá acessar e maior facilidade terá para compreendê-lo. Ouvir, falar, escrever, ler, desenhar, gesticular, olhar, degustar, etc. Reconhecer as limitações e as potencialidades é fundamental para aproveitar ao máximo a capacidade de comunicação.
-AUTOCONHECIMENTO. Quanto mais o indivíduo conhecer suas características, maiores as chances de defender-se das negativas e aproveitar as positivas. Saber lidar com dificuldades e limitações, aproveitar talentos é o melhor que alguém pode fazer. É importante que ele saiba que ninguém é melhor ou pior, como um todo. Cada um é melhor em algumas coisas e pior em outras. O valor é sempre relativo e depende basicamente dos sentimentos que desperta ou de análises lógicas. O que tem grande valor para alguns, pode não ter qualquer valor para outros. Portanto, não há como dizer que alguém é melhor ou pior que outrem. A única evidência é que são diferentes. O importante é que cada um seja o melhor possível, que não desperdice capacidades e não pretenda o que não pode.
-SOCIEDADE. É praticamente impossível ao ser humano viver isoladamente. Ele é um ser social. O convívio em sociedade implica na relação entre os diferentes. Interesses diferentes tendem a gerar conflitos se não houver limitações. Leis e regras tentam estabelecer limites para evitar conflitos, no entanto, o fundamental é que os indivíduos tenham consciência de direitos e deveres; que o direito de um termina onde começa o de outro. É tão natural querermos o máximo, quanto impossível consegui-lo. O direito de outros limita a satisfação pretendida por nossa vontade. O respeito a direitos e deveres é o que se chama de disciplina.
MEIO AMBIENTE. Perceber o meio ambiente em que vivemos é muito importante para que possamos aproveitá-lo, evitando causar-lhe agressões desnecessárias.
RACIOCÍNIO. Não importa a capacidade racional do indivíduo, o importante é que ele saiba usá-la da melhor maneira.
CONHECIMENTO. O conhecimento é uma ferramenta capaz de facilitar a vida. É importante identificar o conhecimento necessário, saber buscá-lo, compreendê-lo e usá-lo. O valor do conhecimento está relacionado com sua utilidade. Ostentar conhecimento como um valor em si, não é razoável.
Se a educação conseguir que o indivíduo consiga se COMUNICAR bem, CONHECER-SE, conviver harmoniosamente em SOCIEDADE, conhecer e respeitar o MEIO AMBIENTE, conseguir usar a RACIONALIDADE e buscar o conhecimento necessário; terá cumprido seu papel.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

A fácil solução dos problemas alheios

Assistindo, ontem, o filme “Dois filhos de Francisco”, ficou evidente a inconsciência de um pai que não mediu conseqüências . Por gostar de música sertaneja, imaginou que os filhos pudessem conseguir sucesso cantando.
Ele não tinha nenhum dado que indicasse que as crianças tivessem algum talento para o canto. Era só um desejo.
Numa festa na cidadezinha, o filho mais velho disse que iria cantar no show que acontecia lá. Subiu no caminhão, que fazia as vezes de palco, e embora o violeiro repetisse muitas vezes a introdução, ele permaneceu travado até conseguir começar a cantar. Não era bem um canto; se parecia mais com uma gritaria. Como prêmio, o pai comprou-lhe uma gaita de boca. O menino não tinha a menor idéia de como tocá-la e fazia um barulho danado.
Depois de um bom tempo, o filho começou a tocar músicas na gaita.
O Francisco vendeu tudo o que produzira no sítio, inclusive um revolver que fora herança de seu pai; para comprar uma sanfona e um violão para os filhos. O detalhe, é que ele devia dinheiro ao sogro pela aquisição de um arado. Ao saber que o genro havia comprado os instrumentos musicais, com dinheiro que poderia ter sido usado no pagamento da dívida; o sogro classificou-o de maluco e irresponsável. Normal, né?
Abandonar o sítio e aventurar-se na cidade, em busca de chances para os filhos cantar, não é atitude considerada normal pela maioria das pessoas, muito pelo contrário: costuma ser classificada como loucura.
Entregar os filhos a um empresário que, embora bem falante e manipulador, evidenciava ser um “picareta”; foi um risco grande demais, também deplorado pela maioria das pessoas. O risco corrido se evidenciou com a morte do filho mais novo, da dupla, num acidente automobilístico, numa viagem depois de uma apresentação.
Se por um lado, Francisco agiu irresponsavelmente e inconscientemente; por outro, incentivou, empurrou e fez o que podia para que os filhos conseguissem sucesso. O que pesa mais nesse julgamento?
Ficou evidente a influência do mistério. A caminhada contribuiu para o aprimoramento musical, mas o sucesso só aconteceu depois de muito tempo. A persistência pode ser considerada como motivo para o sucesso, no entanto, um número enorme de pessoas foi tão persistente quanto eles e continuaram no ostracismo.
Será que se tivessem esperado, sem perseguir o objetivo com tanta insistência, teriam chegado onde chegaram?
Teriam tentado no mento certo?
Teriam tido capacidade de suportar os sofrimentos e decepções?
Se ao invés do sucesso, os dois filhos tivessem morrido no fatídico acidente; como o Francisco seria considerado, hoje?
Difícil julgar, né?
A super-proteção é comum. A total irresponsabilidade, também. No entanto, qual a medida de proteção e atrevimento recomendável? Será que existe esse parâmetro?
O que é evidente, é que não existe super-proteção capaz de evitar todos os problemas e sofrimentos; nem atrevimento que garanta sucesso nos objetivos. Por outro lado, verificamos sucesso conseguido sem maiores esforços, enquanto grandes persistências, esforços e sofrimentos, resultam em fracassos e decepções. Com base nessas evidências, você se atreveria a recomendar ou agir segundo alguma estratégia que te pareça coerente?

Super-proteção é causada por amor, medo, prepotência, egoísmo, desconfiança, desrespeito e covardia.
É natural tentar proteger quem se ama, afinal, o que ela possa sofrer, causará sofrimento a quem a ama. Quem ama, não tenta proteger a pessoa amada só pelo que ela possa sofrer, mas, também, pelo que ele próprio possa sofrer por isso. Algumas vezes, a maior motivação é a proteção de si próprio. É o medo.
A falta de coragem impede o super-protetor de considerar os benefícios que o risco pode propiciar à pessoa amada, super-valorizando o sofrimento próprio, acovardando-se e optando por impedir que ela arrisque em busca de benefícios, prazer e felicidade.
A prepotência, o considerar que sabe o suficiente e que os outros não sabem nada, faz com que o super-protetor se dê o direito de julgar e determinar o que é melhor, sem considerar o que outros possam pensar, principalmente, quem pretende proteger. Ele não considerará os benefícios possíveis a quem pretende proteger, mas só os custos, principalmente os que possam atingir a si próprio. Isso caracteriza, além da prepotência, o egoísmo.
A desconfiança exagerada, causada por comodismo, covardia e egoísmo, torna o risco inaceitável quando não houver promessa de benefícios próprios consideráveis. Nesses casos, considerando que não terá benefícios pessoais, o super-protetor optará por impedir que o pretenso protegido se arrisque em busca de benefícios próprios. Desconfiará de tudo e de todos e usará essa desconfiança para argumentar contra qualquer tentativa.
O super-protetor não tem o menor respeito por quem pretende proteger, não considera sua capacidade, sua vontade, seu direito e, muito menos, as forças que possam influenciá-lo. Não se dá ao trabalho de refletir e analisar, simplesmente tenta impedir.
A intenção de proteger é muito importante, pode evitar prejuízos e sofrimento; possibilitar a busca de caminhos mais promissores, em fim, ajudar a conseguir sucesso, prazer e felicidade, evitando riscos desnecessários. No entanto, é preciso respeitar o direito alheio, a capacidade do indivíduo, sua inteligência, emoção e, principalmente, as forças misteriosas que o afetam. Antes de tentar impedir, é importante ser humilde, solidário, compreensivo, analisando custos e benefícios com isenção, contribuindo para a melhor decisão. Evitar desvalorizar o direito alheio, enquanto super-valoriza o próprio.
É bastante grande o número de pessoas que alegam conhecimento e compreensão, aconselhando, indicando soluções e, até, proibindo; sobre o que desconhecem, não se deram ao trabalho de analisar nem refletir, muito menos, discutir. Falam com tamanha segurança e convicção que, os menos avisados, são enganados com a maior facilidade. Verificando com um pouco mais de cuidado, é fácil perceber o quanto essas pessoas são incapazes de orientar sua própria vida. Seus argumentos são conflitantes, contraditórios; o que não as impede de defender, com ênfase, as maiores ambigüidades; demonstrando seu desconhecimento, incompreensão, domínio de preconceitos, de vontades e da emoção, enquanto fica claro a total ausência de racionalidade.
É muito difícil estabelecer os limites entre o que é proteção e o que é abuso de poder, prepotência e egoísmo. Não existem parâmetros confiáveis que possam ser usados com segurança, o que nos obriga a considerar cada caso, refletir, analisar e decidir.
Não é fácil! Embora, muitos, nem se dêem o direito de qualquer reflexão e optem por proibir e tentar impedir a qualquer custo que o suposto protegido tente o que quer que seja; é preciso considerar que isso é um abuso inaceitável, talvez, pior que a despreocupação irresponsável.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Comunicação é fundamental

COMUNICAÇÃO É FUNDAMENTAL

Com dificuldades na comunicação é muito difícil assimilar conhecimento e transmitir o que se pretenda.
Comunicação exige interpretação do que se recebe e clareza no que se expõe.
Ouvir, ler, ver, sentir são meios de adquirir conhecimento.
Falar, escrever, mostrar, são meios de expressão, de comunicar idéias e conhecimentos.
Conhecer-se e interpretar o que se passa dentro de nós é muito importante para administrarmos as dificuldades que são causadas internamente.
A dificuldade de concentração é causa de grandes problemas, principalmente na recepção de conhecimento, idéias, artes, etc. É comum que, enquanto estamos recebendo informações, nossa mente seja ocupada por pensamentos sem relação com o que estamos empenhados naquele momento. Ao ler, por exemplo, a vista percorre o texto, mas a leitura não é registrada, obrigando-nos a reler para assimilar o conteúdo. O mesmo costuma acontecer quando ouvimos. O transmissor fala, nós ouvimos, mas não assimilamos o que ele diz, porque o pensamento está ocupado em outra coisa.
Outro fator que costuma dificultar a assimilação é a ansiedade. Ela pretende que a assimilação se dê mais rápido do que o tempo necessário para que isso ocorra. O resultado é oposto ao pretendido: perde-se tempo tendo que retomar desde o início. Não é raro que isso ocorra N vezes em uma situação. O aprendizado de matemática é um bom exemplo dessa ocorrência, acreditá-se que já se aprendeu algo e, ao tentar resolver um exercício, verifica-se que não se consegue.
A vontade e, conseqüentemente a emoção, influenciam a assimilação, a interpretação e, principalmente, a racionalidade.
A dificuldade de concentração dificulta muito a assimilação, interpretação e compreensão. Sem concentração é perda de tempo tentar assimilar algo.
Problemas não resolvidos costumam ocupar nossa mente, dificultando que nos concentremos em outra coisa. Se uma criança está preocupada com que descubram alguma travessura que fez e as conseqüências que pode sofrer, isso ocupará seu pensamento, dificultando que use a mente para outra coisa. A expectativa por algo que gostaria conseguir provoca a mesma coisa. Portanto, uma boa maneira de conseguir concentração é eliminar problemas que possam dificultá-la.
Disciplina significa fazer o que deve ser feito e evitar o que não deve. Controlar-nos é praticar disciplina.
Disciplina é respeito a direitos e deveres. É difícil manter a disciplina quando isso implica em contrariar satisfações que desejamos.
Disciplina e organização facilitam a solução de problemas e evitam que percamos o que desenvolvemos bem, até que perdemos a concentração. Por exemplo: ir escrevendo o desenvolvimento, passo a passo, de uma expressão matemática, ajuda a encontrar eventuais erros causados por desconcentração momentânea ou outro problema que tenha provocado o erro.

TURBINANDO O PROFESSOR
O professor é fundamental para a educação. Educação é o objetivo dessa profissão. É ele que tem que ter o mínimo de preparo para identificar as dificuldades de seus alunos e buscar soluções, acionando o que for necessário para isso.
Para que o professor possa desempenhar seu papel, ele precisa de empenho, motivação, incentivo e apoio.
É comum que o professor nunca tenha considerado o quanto a vontade e a emoção influenciam a vida e as atividades cotidianas. Não tiveram a atenção chamada para isso. Como todos, foram ensinados de que temos plena capacidade para dirigir nossa vida e determinar nosso futuro. Não nos alertaram contra as forças que nos afetam, provocando-nos, impulsionando-nos, impedindo-nos.
Não nos alertaram contra os perigos da ansiedade, a importância da motivação e como influenciá-las. Não fomos preparados para enfrentar nossas limitações.
O professor precisa compreender isso para propiciar a seus alunos o conhecimento que não recebeu, as defesas que não pode preparar.
O professor precisa receber informações sobre como analisar o comportamento dos alunos, identificar eventuais causas, buscar orientação, discutir casos particulares com colegas, pais e com quem possa contribuir na busca de soluções. A troca de experiências é importante para propiciar soluções, para motivar análises e incentivar quem se proponha a contribuir para melhoras.
O professor precisa de reuniões que funcionem como terapia de grupo, onde ele possa descarregar suas angústias e “recarregar as baterias”. A troca de experiências pode ser de grande ajuda, tanto na solução de problemas, quanto no consolo para o que ainda não puder ser resolvido.
O professor precisa participar das diretrizes com que deverá trabalhar e, não, simplesmente obedecê-las. Se isso não for possível, dificilmente ele poderá cumprir seu papel a contento.

INFLUÊNCIAS DO MEIO SOCIAL
Não bastassem as forças internas ao indivíduo causadoras de problemas, ele ainda está sujeito a influências do meio social que as agravam ou geram deformações que não lhe são inatas.
A super-proteção dificulta que a criança perceba riscos potenciais, aprenda a se defender e evitá-los.
Satisfazer vontades da criança sem considerar o custo/benefício, pode causar que ela acredite que tem direito a que todas suas vontades sejam satisfeitas, independente de dificuldades ou atropelamento a direitos alheios. Isso dificulta que o indivíduo perceba que a satisfação de muitas vontades é difícil e, até, impossível. Que muitas satisfações causam sofrimento e prejuízos ao invés do prazer e felicidade imaginada. Essa deformação causa que o indivíduo acredite que seu querer tem supremacia sobre qualquer outra coisa ou valor, provocando-o a exigir satisfação, egoisticamente.
A falta de disciplina provoca que o indivíduo desconsidere a importância de direitos e deveres, provocando a crença de que tem todos os direitos e nenhum dever. A vida familiar é responsável por muitos desses casos. Crianças que não tem qualquer cuidado com roupas e sapatos; que querem tudo na mão e que acham isso natural. Ao parar de brincar, deixam tudo onde está, querem ser servidos nas refeições, quando não exigem o alimento na boca; esperam que alguém lhes dê banho; Não fazem deveres escolares sem ajuda. Guardar alguma coisa ou cuidar delas? Nem pensar. Não vacilam um segundo em acusar qualquer um pelo que venham a sofrer, o primeiro que lhes ocorrer ou que esteja mais perto.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

DENÚNCIA

À
Secretaria de educação
Prefeitura de Sapucaí Mirim-MG
A/C Professora Maria de Fátima

No dia 28 de maio de 2007, conversei com o prefeito Reginaldo, oferecendo-lhe colaboração para conseguir melhor rendimento e qualidade por parte dos servidores públicos.
Esse trabalho se basearia em um projeto, produto de: pesquisa, reflexões e análises que venho desenvolvendo há vários anos.
O trabalho seria realizado por mim, proferindo palestras e orientando dirigentes e funcionários, como colaboração ao município, sem custos financeiros.
O prefeito considerou a idéia viável e encarregou o vereador Rogério de me colocar em contato com a secretária de educação, por onde ele preferia começar o trabalho, como experiência.
No dia 12/06/07, fui até o paço municipal onde encontrei o vereador Rogério, que ainda não havia conversado com a secretária de educação. Ele me levou até a sala da secretaria e me apresentou a ela, comunicando que o prefeito pedira que ela me atendesse.
Como ela estivesse de saída para uma reunião em outra cidade, conversamos por vinte minutos, mais ou menos, quando lhe coloquei, em linhas gerais, qual o objetivo do projeto. Ela se mostrou interessada e, até, entusiasmada, dizendo que, dois dias depois, haveria uma reunião de diretoras das escolas, para que elas participassem de um curso. Que eu poderia aproveitar a ocasião para expor o projeto. Ela disse que não estaria, pois participaria de uma reunião em Caxambu.
No dia 14/06/07, na parte da manhã, fui até o paço municipal para saber se a reunião estava confirmada, a que horas seria e onde se realizaria. O pessoal da secretaria não soube informar e me pediram para ir até a creche, conversar com a diretora de lá, que substitui a secretária na sua ausência.
Fui até lá e conversei com a professora Marta e outra senhora que se encontrava lá. A pedido delas, expus o mesmo que já havia exposto à secretária. Elas ficaram de conversar com a secretária, que me contataria.
No dia 15/06/07, telefonei para a secretária de educação, que me disse que havia deixado um bilhete para que me contatassem, mas que o vento o derrubara da mesa e, por isso, não me haviam avisado que a reunião fora transferida. Me pediu os telefones, pois eu estava em São Paulo, para que me ligassem, ainda naquele dia, para marcar uma reunião para o início da próxima semana. Forneci os números de telefone fixo e celular, mas não me contataram.
No dia 26/06/07, voltei ao paço municipal para devolver a encadernação do projeto político pedagógico que a secretária havia me emprestado para ler. Ela disse que estavam muito atarefadas e que me chamariam no mês de agosto para programarmos alguma coisa.
No dia 06/08/07, procurei a secretária de educação para saber em que pé estava o agendamento da exposição do meu projeto. Ela me disse estar muito ocupada naquela semana e marcou o dia 13/08/07, as duas horas da tarde, para conversarmos.
No dia 13, fui até a secretaria, no horário combinado, mas a secretária não estava e me informaram que a mesma participava de uma reunião na creche. A funcionária que me atendeu alegou não Ter conhecimento da reunião que a secretária marcara comigo. Telefonou para a creche, informando que eu estava lá, pedindo que perguntassem à secretária o que deveria ser feito.
Orientaram-na para me encaminhar até a creche.
A secretária me atendeu, perguntando sobre o motivo que me levava a querer conversar com ela.
Disse-lhe que, como ela havia me dito que a apresentação do meu projeto aconteceria em agosto, eu queria saber se haviam agendado a data para isso.
Ela alegou que tinham dificuldade de datas disponíveis, que a programação da secretaria é feita em fevereiro e que eles procuram ser rígidos com essa programação, o que dificulta inserir eventos não programáveis.
Lembrei-a que eu, desde a primeira vez, me propusera a apresentar o projeto em qualquer dia e horário, mesmo à noite ou madrugada. Acusei minha frustração em perceber que um projeto que me custou tanto tempo de reflexões, análises e pesquisas; que eu oferecia gratuitamente como colaboração ao município, não merecesse atenção. Que ele estava sendo negligenciado antes mesmo de ser conhecido e debatida sua validade ou não.
Ela alegou que precisaria Ter algum material para apresentar aos diretores. Repeti-lhe que eu estava disposto a fazer a apresentação em qualquer dia e horário, que bastava que se dispusessem a me ouvir, para que se inteirassem do projeto e pudessem questioná-lo. No entanto, ofereci-lhe um esboço que levara comigo, para que o copiasse e distribuísse entre os diretores e a quem mais interessasse.
Ela disse que teria uma reunião com eles, naquela mesma tarde, naquele mesmo local; que conversaria com eles a respeito e que telefonaria, ainda naquela tarde, para agendar a apresentação, que poderia acontecer na próxima semana.
Deixei o esboço impresso que levara comigo e esperei o prometido telefonema, que não aconteceu.
Estou mandando este e-mail como reafirmação de minha proposta de colaboração ao município, juntando, em anexos, o esboço que deixei com a secretária e outro que amplia um pouco mais os objetivos e argumentos desse projeto.

04/09/07
Fui na prefeitura por volta das nove horas. O prefeito, Reginaldo, me recebeu, disse-lhe que continuo acreditando que ele é um homem bem intencionado e, por isso, estava ali para relatar-lhe o que vinha acontecendo quanto a minha oferta de colaborar com a prefeitura no sentido de melhorar os serviços que ela presta.
Disse que as evidências mostram que há algo errado na secretaria de educação, fruto de má fé o incompetência. O Rogério, que estava ao lado, retorquiu alegando que o problema era o excesso de trabalho na secretaria, o que impedia a aceitação do meu projeto, por pura falta de tempo. Que a secretaria tinha vários projetos para examinar e que não o fazia por absoluta falta de tempo.
Argumentei que essa alegação era descabida, uma vez que, algum desses projetos, poderiam oferecer soluções para o desafogamento da secretaria, contribuindo para a fluidez dos trabalhos. Ele se mostrava revoltado e alegou que eu mandara um e-mail para o prefeito e para a secretaria, que julgava ofensivo. Argumentei que era um simples relato do que vinha acontecendo e que, se quisessem contestar o que eu havia escrito, estava a disposição para discutir.
O Reginaldo mandou chamar a dona Maria de Fátima, alegando que ela era a responsável pela secretaria e que ele não poderia se manifestar a respeito por desconhecer as dificuldades que impediriam a secretaria de analisar meu projeto.
Ela alegou que o problema era a falta de tempo, que todas as atividades da secretaria estavam programadas e que não havia folga para a introdução de novos projetos. Que meu projeto era bom, mas que só poderia ser implantado no ano que vem.
Argumentei que, na última vez que conversara com ela, concordamos que o projeto deveria ser apresentado aos diretores para discussão, verificando a validade ou não do proposto. Ela aceitara isso como o melhor a fazer. Entreguei-lhe nove folhas impressas com um pequeno resumo dos pontos abordados pelo projeto. Ela ficara de conversar com os diretores, com quem se reuniria naquela mesma tarde, agendaria uma reunião para que eu fizesse a exposição e fosse questionado por eles. Ficou de me ligar naquela mesma tarde para confirmar data e horário dessa reunião.
Como já havia feito de outras vezes, não me ligou nem deu qualquer satisfação.
No dia quatorze de agosto, mandei e-mails para a secretaria de educação e para o gabinete do prefeito, para endereços que me forneceram por telefone. Esses e-mails relatavam o que vinha acontecendo em todos os contatos que fizera para tentar viabilizar a oferta que eu fizera, além de, em anexos, encaminhar o texto que entregara à secretária e outro resumo a respeito do mesmo assunto, complementando o primeiro.
Procurei o prefeito no dia dezesseis de agosto relatando-lhe o que vinha acontecendo. Ele não havia recebido o e-mail porque o endereço que me haviam dado estava errado. De lá mesmo reencaminhei o e-mail, que chegou a suas mãos.
Relatei-lhe o que vinha acontecendo e ele incumbiu o Rogério a convocar a secretária para que pudessem esclarecer o que estava acontecendo. Isso não poderia ser feito naquele dia porque ela não se encontrava na prefeitura. Ficaram de me contatar para informar o resultado.
Na Segunda-feira, dia vinte de agosto, a secretária me ligou convocando para que eu fizesse uma palestra a professoras que participariam de uma reunião no prédio da creche, as dezoito horas.
Na creche, a coordenadora da reunião, me comunicou que eu teria trinta minutos para apresentar o projeto às professoras. A coordenadora permaneceu a um canto da sala, verificando papéis, sem dar maior atenção ao que eu dizia. No final, a diretora da creche, que chegara mais tarde e se sentara junto à coordenadora, mas prestando atenção à palestra, me informou que haveria outra reunião no dia seguinte e que eu poderia falar a outro grupo de professoras. Compareci no dia seguinte e falei ao novo grupo de professoras. Nessa reunião não fui pressionado por tempo e falei o que me pareceu necessário, cuidando para não extrapolar e prejudicar o tempo necessário para que a reunião continuasse e fossem tratados os assuntos que a provocaram.
Ao que tudo indica, a secretária me convocou para essas duas palestras para dar a impressão de que dava encaminhamento à minha proposta. Ela sabia que a exposição do projeto deveria ser para os diretores, que deveriam avaliá-lo e, se fosse aprovado, programar o que poderia ser feito, quando, onde e como. As professoras não têm autonomia para aceitar ou não qualquer projeto, dependendo da secretaria ou da direção para aceitarem ou não o que podem ou não fazer. Fez isso para se livrar do que considerou pressão que eu fazia contra sua impassividade.
Ela não teve argumentos para contradizer os fatos que eu expunha e continuava a alegar falta de tempo. Eu rebatia dizendo que: sem conhecer o projeto, ela não poderia saber se ele não poderia resolver o problema da falta de tempo que ela tanto alegava.
Um tal de Peninha, ou coisa parecida, que sempre está na sala do prefeito e que não sei que função exerce; se intrometeu na conversa defendendo a secretária, corroborando o argumento da falta de tempo e impossibilidade de alterar a programação. Se mostrava revoltado, como o Rogério.
Disse-lhe que se ele queria participar da conversa, que deveria inteirar-se dos fatos, antes de opinar sobre o que desconhecia. Disse-lhe que meu projeto não requeria mudanças de planejamento ou cronogramas. Que eu estava oferecendo ajuda, disposição para trabalhar no que se fizesse necessário e tentar conseguir ajuda de outras pessoas. Portanto, a única exigência, é que a secretaria se dispusesse a ouvir, questionar e, se fosse o caso, aproveitar da melhor maneira a ajuda oferecida. Ele insistiu que não havia tempo para essa análise. Ele alegou que eu estaria tentando impor mudanças e que a secretaria não poderia se submeter a isso. Reiterei que isso era mentira, que estava me dispondo a trabalhar, a ajudar, sem qualquer exigência de mudanças que pudessem causar problemas. Ele se mostrou ofendido porque eu me levantara da cadeira e me dirigira a ele. Reclamou que eu lhe apontara o dedo e disse que su poderia divulgar as acusações que quisesse, demonstrando que não teme que essas acusações pudessem denegrir o trabalho da prefeitura. Demonstrou ser o tipo de pessoa que apela, acusando para se defender do que não tem argumentos para faze-lo.
Lí o texto que preparara para pedir ajuda a empresas e cidadãos disponíveis a ajudar. Tive a impressão de que ninguém deu muita atenção a ele.
A secretária voltou a dizer que gostara do projeto (que ela não conhece, a não ser um pequeno resumo), mas que só seria possível implementá-lo no próximo ano. Alegando compromissos, retirou-se.
O prefeito me disse que o projeto poderia ser aproveitado no ano seguinte. Disse-lhe que o que ele ouvira ali era suficiente para mostrar o que vinha acontecendo e que seus auxiliares estavam prejudicando o seu governo. Que eu me sentia no dever de denunciar o acontecido e o que pudesse apurar. Que nunca tive qualquer interesse político e que minha intenção era a de ajudar, colaborando com o resultado de muita reflexão, análises e conclusões, ao que se soma minha disposição de trabalhar para que isso seja aproveitado. Que pretendia que Sapucai Mirim pudesse ser vista como a primeira cidade a se dispor à mudanças, abraçando o projeto, permitindo que se tornasse realidade. Que, agora, ela seria mostrada como o, poder público, além de usar mal seus recursos, desperdiça as oportunidades que tem de melhorar a qualidade de vida dos munícipes. Desperdiça recursos pagando salários de administradores e funcionários que não se atrevem a ser mais que burocratas, sem comprometimento com os resultados práticos que seu trabalho deveria propiciar, mais interessados em si próprios do que na sociedade a que deveriam servir. Desprezando ajuda que poderia melhorar a situação do povo, aumentam o prejuízo que lhe causam e demonstram o desprezo que lhe têm.


e-mail pepe.granja@hotmail.com

VONTADE

VIVER

Viver é Ter o organismo e a mente funcionando.
Viver com qualidade é Ter o organismo e a mente funcionando, aproveitar ao máximo a felicidade e minimizar a infelicidade. É sentir, participar, buscar, refletir, julgar, mudar.
A qualidade da vida é o que sentimos, todo o resto tem como objetivo provocar sentimentos. O que é bom para uns, pode ser ruim para outros. Não importa que a razão indique que o indivíduo não tem motivos para estar infeliz; se ele se sente assim, é isso o que importa e, não, o que a razão diz. O mesmo acontece em relação à felicidade e aos sentimentos em geral.
Os sentimentos têm valores relativos, o ruim é parâmetro para avaliar o bom, o mal é o parâmetro de avaliação do bem, o sofrimento valoriza o prazer e vice-versa. A fome realça o valor da comida, a sede, o da água; a tristeza, da felicidade. Portanto, é evidente a relatividade dos valores no que se refere aos sentimentos, relegando os valores absolutos para segundo plano. A perda do que causou uma grande felicidade, costuma gerar enorme sofrimento.
Não há vida participativa feliz ou infeliz. O que vale é o agora tendo o passado como parâmetro e o futuro como expectativa. São momentos, mais ou menos longos, de felicidade ou infelicidade e a quantidade e duração de um e do outro é que avaliarão se a vida foi mais ou menos feliz.

POSSE E DESEJO
Seus valores
Água é água, mas seu valor depende de sua escassez ou abundância. A luz será muito mais valorizada quando faltar do que quando estiver disponível. A saúde precisa da doença para Ter seu valor ressaltado. A riqueza terá pouco valor se não for comparada à pobreza. O amor terá seu valor reconhecido quando estiver ameaçado ou for perdido. Em fim, costumamos não dar muito valor ao que temos e super-valorizamos o que não temos ou perdemos. Por mais que nos esforcemos, não conseguimos valorizar ao máximo o que temos, se não o perdermos ou sentirmos que está ameaçado.
A razão diz que isso é um absurdo, que deveríamos valorizar ao máximo o que temos e não dar tanto valor ao que desejamos conseguir. No entanto, a emoção teima em provocar sentimentos que contrariam a razão, por isso a insatisfação é a companheira mais constante do ser humano.
Parece que a conquista é o objetivo da vida. Ela se manifesta através da vontade, que provoca o desejo, que busca satisfação. O que já temos não precisa ser conquistado, não provoca desejo e não oferece satisfação. É comum que o valor do que já conquistamos, diminua significativamente em relação ao que lhe atribuímos quando o desejávamos.
O comerciante talentoso, mesmo que inconscientemente, usa essa característica do ser humano, para Ter sucesso nos negócios. Ele age ao contrário, super-valoriza o que tem e procura desvalorizar o que pretende adquirir.
Um comerciante de automóveis, sabe que o cliente pretende trocar o carro que tem, por outro, porque não está satisfeito e pretende satisfazer seu desejo, que é possuir outro carro.
O comerciante aproveita a pré-disposição do cliente de super valorizar o que pretende e desvalorizar o que tem. Para tanto, realça as qualidades do carro que pretende vender e que atendem o desejo do comprador, escondendo os possíveis defeitos, enquanto faz o contrário com o que pretende receber em troca; realçando defeitos e escondendo qualidades.
O cliente sente-se apoiado e reforça sua crença de que estava certo: que precisa se livrar do que tem, por estar defeituoso e adquirir o outro que oferece tantas vantagens. A razão poderá lhe mostrar que a realidade não é bem aquela, mas a emoção trabalhará a favor do comerciante.
Os vigaristas tem talento especial para explorar essa característica em suas vítimas, explorando-as para aplicar seus golpes.
Quando percebemos que poderemos perder o que temos, sentimos seu valor realçado, mas ao invés de nos esforçarmos para reconquistá-lo, tentamos mantê-lo à força, provocando problemas que diminuirão as possibilidades de continuar desfrutando-o e, muitas vezes, causando a perda irreparável.
Em um casal, o ciúme é provocado pela crença de que a exclusividade está em risco. Não importa se esse risco é real ou não, o importante é que o indivíduo se sente ameaçado. Isso acontece porque ele acredita que, para a mulher, ele tem menos valor que o rival, caso contrário, não teria motivos para se preocupar.
A racionalidade indica que ele deveria realçar suas qualidades, minimizar seus defeitos, mostrando à sua amada que ele tem muito mais valor do que o suposto rival, além de investir para reforçar o amor que a companheira sinta por ele e demonstrando o quanto a ama. Isso representaria o reconhecimento de que não valorizara suficientemente o que estava a sua disposição, buscando corrigir o erro cometido.
Ao invés disso, ele prefere acusar a mulher de leviana, o rival de conquistador sem escrúpulos, alegando ser vítima de injustiça. Isso pode ser verdade, mas não o é na maioria dos casos. Ele passa a acusar a mulher, restringindo-lhe a liberdade, cobrando fidelidade, ameaçando. Se a mulher não tinha motivos para repudiá-lo, passa a tê-los e o que não passara de imaginação, pode se tornar realidade, provocando a separação depois de um período de brigas e sofrimento. Isso tanto acontece com homens como com mulheres.
Embora ele se alegue injustiçado, declarando Ter mais valor que o rival, não é o que demonstra. O que importa não é o valor que ele acredite Ter e, sim, o que a mulher lhe reconhece. Ao não se sentir seguro quanto ao valor que a mulher lhe reconhece, o rival imaginário estará sendo super-valorizado, enquanto ele se sente rejeitado.
Enquanto o fantasma do rival não aparece, é comum que o homem não sinta o quanto a mulher lhe é importante. Gaste tempo com outras coisas de menor valor, deixando de aproveitar os prazeres que a companhia dela poderia lhe propiciar. Ao sentir-se ameaçado, ao invés de tentar reconquistar, agride; provocando a perda do que não soube valorizar.

A vontade de conquistar é a energia que propicia o avanço, as descobertas, as invenções, o conhecimento e seu aproveitamento, em fim, o que se chama de progresso. Sem a vontade de conquistar, a vida seria estagnada. Se é verdade que a vontade de conquistar propicia resultados positivos e benéficos para a humanidade e para o indivíduo; não é menos verdade que ela é fonte de grandes males e sofrimento.
Avaliar as vontades, incentivando as positivas e eliminando as negativas; propiciaria a eliminação de grande número de problemas que afligem o indivíduo e a sociedade.
Conseguir valorizar o que já tem, desfrutando-o ao máximo possível, pode aumentar o prazer e felicidade do indivíduo, aliviando a pressão que sofra para lutar por novas conquistas, diminuindo a ansiedade, possibilitando maior reflexão na análise do custo/benefício da nova vontade que pede conquista.
O equilíbrio entre valorizar o que já tem e buscar novas conquistas; pode ser a melhor maneira de aproveitar a vida.
Isso é bastante lógico e sobram argumentos racionais para comprová-lo; no entanto, é muito difícil de ser conseguido na prática. A vontade costuma reagir à razão e, grande parte das vezes, impede que suas recomendações sejam seguidas. Por que isso acontece?

ANSIEDADE
A ansiedade é uma coisa terrível! Ela é ruim até quando o desejado é realizável e causador de grande prazer e felicidade.

Eu estava em Campo Grande sofrendo a maior infelicidade sentida até ali. Tinha convicção de que, se existia inferno, eu estava no pior lugar dele. A alma, ou seja lá o que for, sofria dores agudas e profundas, constantes, sem tréguas, sem um segundo sequer de alívio. Não sentia fome, nem sono; nem mesmo raiva, por maiores que fossem os motivos, eu conseguia sentir. Só tristeza, imensa, constante, dolorida.
A causa fora a perda do grande amor de minha vida. Não perdera só um grande amor, o maior; perdera a mulher que me admirara, respeitara, compreendera; uma companheira solidária, corajosa, sensível, inteligente; uma amiga leal. Não bastasse tudo isso, ela era linda. Foram cinco anos de uma felicidade inenarrável. Não consigo imaginar algo que possa ser comparado a uma perda como essa. Era um valor extraordinário! Não acredito que a perda de uma fortuna, por maior que seja, sirva de parâmetro para comparação. O sofrimento da perda é proporcional à felicidade que aquilo causou. Quanto maior a felicidade conseguida, maior é a tristeza de sua perda. A felicidade que eu tivera, ultrapassara qualquer fantasia que eu tivesse produzido; portanto, a perda foi catastrófica.
Não houve brigas nem discussões. Eu fora para Campo Grande, fazer um trabalho experimental, enquanto ela fora esperar o resultado da experiência, na casa da mãe. Se a experiência desse certo, partiríamos para uma nova etapa de nossa vida em comum, que fora cheia de aventuras. A separação não deveria ser maior do que um mês.
Nos falávamos freqüentemente por telefone. Numa das ligações, ela dissera que conhecera um rapaz e que estava confusa quanto a suas emoções. Disse-lhe para experimentar, buscando segurança no que fosse melhor pra ela. A racionalidade me obrigou a dizer aquilo, embora a emoção me forçasse a entrar pelo cabo do telefone e ir arrebatá-la naquele instante.
O choque foi brutal! Foi como se um raio tivesse atingido a emoção, sobrecarregando a tristeza com uma energia infinita. Senti a terra se abrindo sob meus pés e eu despencasse num buraco sem fim.
Estávamos a mil e duzentos quilômetros um do outro, fisicamente, embora ela estivesse dentro de mim, em cada célula.
A falta de notícias era angustiante, embora eu a sentisse perdida desde o primeiro instante. Imaginava que ela tivesse encontrado um cara com muitas qualidades, que a tivesse valorizado suficientemente, e que tivessem se apaixonado. Isso seria ótimo para ela e, eu, sempre quis o melhor pra ela.
A emoção brigava com a razão, uma briga hercúlea, A emoção queria seu corpo junto a mim, enquanto a razão torcia para que ela tivesse o melhor.
A razão me indicava que eu nada poderia fazer. Ela me conhecia suficientemente, o que dispensava que eu pudesse lhe mostrar algo de novo. Tinha inteligência suficiente para analisar e decidir. Se a emoção a impedisse de racionalizar, não seriam argumentos que pudessem convencê-la do contrário. Portanto, não me restava alternativa, a não ser esperar.
A razão me dizia que deveria esquecê-la até que o veredicto fosse confirmado, que era bobagem ficar sofrendo; que eu deveria tocar a vida, buscando satisfações. Se ela optasse em voltar, a questão poderia ser retomada, analisada e concluída. O melhor a fazer era esquecê-la, libertar a mente e retomar a busca da felicidade.
No entanto, enquanto a razão lutava desesperadamente para me livrar do sofrimento, sua força era extremamente insignificante diante da força da emoção que preenchia a mente com pensamentos sofríveis, desejando vingança, me provocando a tentar recuperá-la a qualquer custo, provocando lembranças do quanto eu fora feliz, não para provocar prazer e, sim, para aumentar o sofrimento, o tamanho da perda. A ansiedade me fazia esperar cada segundo pelo toque do telefone.
Quando muito, eu dormia duas horas por noite e comia meio pacote de miojo em cada refeição, na marra. Enquanto não estava trabalhando, preenchia o tempo escrevendo, derramando lágrimas sobre o papel, juntando letras para formar palavras de desespero, forçando a razão a combater a emoção. Minha mente era um campo de batalha, das mais cruéis, sem descanso, numa luta feroz.
Ao invés de minimizar o sofrimento, a passagem do tempo, o acentuava. Minhas forças físicas diminuíam, enquanto a energia da batalha mental se intensificava a cada dia.
Depois de dois meses, que pareceram séculos, ela me ligou perguntando se poderia voltar. Foi como se o raio que havia me enterrado, surgisse das profundezas e me arremessasse para o infinito do espaço. Depois de um instante de torpor, a ansiedade me provocava a puxá-la pelo cabo do telefone e abraçá-la imediatamente. Ela disse que tinha um assunto pendente para resolver e que me ligaria nos próximos dias para marcarmos a melhor maneira de nos encontrarmos. Disse que me amava e que não via a hora de nos juntarmos.
Minha mente parecia uma corrida de fórmula um onde todos os carros se chocassem, com pedaços pulando por todos os lados. A razão tentava organizar as idéias, enquanto a ansiedade queria solução imediata, pra ontem.
A alegria era imensa, o corpo vibrava intensamente, os pensamentos se atropelavam, a dúvida de se era um sonho ou realidade dominou por algum tempo. O medo de que ela pudesse mudar de idéia ganhou espaço e uma nuvem negra dominou o pensamento.
No entanto, a esperança de recuperá-la foi maior. Era realidade, ela dissera que queria voltar, repetiu várias vezes. Que assunto pendente seria o que ela tinha que resolver? Ela se negara a dizer, alegando que contaria quando nos reuníssemos. Que poderia ser?
Pelo menos, agora, os pensamentos ruins tinham a companhia dos bons e se alternavam descontroladamente. A razão me recomendava que me agarrasse aos bons, mas que considerasse a possibilidade de ela desistir, preparando-me para a retomada da tragédia. A mente era um caldeirão em ebulição.
Ela ligou dois dias depois, para combinar nosso encontro. Sugeri que ela fosse pra São Paulo, pois estava com nosso carro; que eu iria de ônibus, nos encontraríamos lá e voltaríamos juntos. Ela alegou que não tinha dinheiro para ir até São Paulo. Fiquei de fazer um depósito na sua conta bancária. Ela ficou de ligar no dia seguinte para confirmarmos o dia da viagem, uma vez que aquele assunto ainda não fora resolvido.
Já era noite, fui até o centro da cidade para fazer o depósito. Nas duas agências que havia ali, os caixas eletrônicos não estavam funcionando. Bateu o desespero!
No dia seguinte, fui até uma agência do banco e fiz o depósito.
Ela me ligou dizendo que seu cartão magnético apresentara defeito e que não conseguira tirar o dinheiro, o que só poderia ser feito em São Paulo, na agência de sua conta. Ela ficou de tentar conseguir um empréstimo e me ligar quando tivesse resolvido a pendência.
Ligou dois dias depois, dizendo que estava liberada, mas que não conseguira o empréstimo. Eu já não agüentava, estava a ponto de explodir! Decidi ir buscá-la na cidadezinha, onde ela estava na zona rural. Disse-lhe que pegaria o ônibus na noite seguinte, iria para São Paulo, pegaria o outro ônibus e que, no Sábado pela manhã a encontraria na cidadezinha, no ponto de ônibus, na beira da estrada.
Na manhã seguinte, comuniquei aos donos da empresa em que estava trabalhando, que viajaria naquela noite, por isso precisaria sair um pouco mais cedo. Um deles, que era de São Paulo, e estava voltando pra lá, me ofereceu carona. Saímos naquela mesma manhã. A ansiedade era tanta que eu tinha impulsos de apertar o pé do motorista no acelerador.
Eu estava indo ao encontro da felicidade, do paraíso, fugindo do inferno. Deveria estar radiante, curtindo o deleite que seria aquele reencontro, no entanto, sentia angústia, medo de acordar e verificar que não passara de um sonho. Eu me beliscava, mas não adiantava. O medo de que ela pudesse desistir me agoniava. A viagem era interminável. As horas corriam, enquanto a distância se arrastava, lentamente, teimando em não ser vencida.
Chegamos em São Paulo no começo da noite. O primeiro ônibus para a cidade onde ela estava, só sairia na manhã seguinte. Fui para a casa de meus pais, liguei para a rodoviária, para saber o horário do ônibus, mas ninguém atendia. Tentei até altas horas e nada.
A ansiedade fazia a angústia aumentar, como se isso fosse possível. Eu sabia que o ônibus saia por volta das sete horas, mas não tinha certeza. Só havia aquele pela manhã e outro no final da tarde. Se não conseguisse ir naquele, ela poderia pensar que eu houvera desistido. Esse pensamento me provocava pânico.
As cinco e meia da manhã, eu já estava na rodoviária, comprei a passagem e esperei as duas horas que faltavam para o embarque. Os nervos do meu corpo, desde o menor até o maior, tremiam, vibravam como as cordas de um instrumento. Eu andava de um lado para o outro, comprei um jornal, tentei lê-lo, mas era impossível; a mente se negava a registrar as palavras.
O ônibus parou na rodoviária de São José dos Campos. Eu havia combinado que, como não tinha como ligar pra ela, que ela me ligasse no celular, por volta das oito e meia, pois eu estaria numa região em que havia sinal. Depois disso, o sinal não existiria e não teríamos como nos comunicar, caso algum imprevisto surgisse.
Eu segurava o celular na mão, com tamanha força que parecia que o esmagaria e o dissolveria com o suor que jorrava dela. Aliviei a pressão e enxuguei-o, mas ele não tocava.
O ônibus partiu, chegou na região onde não havia sinal e o toque da campainha continuava mudo. O pensamento de que ela desistira tomou conta e o domínio do desespero foi uma tarefa hercúlea.
Desci do ônibus e olhei para o ponto vazio. Senti aquele buraco imaginário se abrir sob meus pés. Permaneci estático, com o olhar fixo naquele ponto de ônibus, não sei por quanto tempo. Pensei em procurá-la, afinal a cidadezinha era minúscula. A possibilidade de darmos voltas desencontradas aumentou meu pavor. No entanto, não poderia ficar ali, imóvel, presa daquela angústia terrível.
Desci uma rua e, na primeira esquina, encontrei dois conhecidos. Quando lhes perguntava se a haviam visto, vi nosso carro se aproximando, com ela ao volante. O mundo desapareceu, só ficou aquele carro cor de vinho, aqueles olhos verdes e o cabelo loiro. Fui até o carro como um robô, sem correr, a passos lentos, com medo de que fosse uma miragem.
Entrei no carro, ela dirigiu até a estrada, parou no acostamento, nos abraçamos e beijamos longamente, entre lágrimas que expulsavam a angústia represada.
A cidade sofrera um apagão telefônico e nenhum aparelho funcionava, por isso ela não conseguira me ligar. Tudo contribuiu para que não se perdesse nem um único segundo de agonia.
Não teria sido problema encontrá-la, mesmo que estivesse na casa de parentes na roça. Eu poderia Ter pego um taxi e procurado-a. O problema é que o motivo de ela não estar me esperando, poderia Ter sido a desistência e, a ansiedade, colocava esse como o único motivo possível.
Eu me empenhei profundamente e acionei todas as forças disponíveis para fortalecer a razão e a moral, no entanto, a emoção dominou o tempo todo, massacrando a racionalidade e desconsiderando a moral.

A ansiedade é uma componente da vontade, grande causadora de sofrimento e terrível empecilho para a racionalidade. É muito difícil de ser dominada, provocando pressa, forçando a tomada de atalhos, que geram enormes atrasos e, muitas vezes, impossibilitam atingir o desejado. A ansiedade é um câncer da vida.


VONTADE
Segundo Schopenhauer, ao tomar consciência de si, o homem se experiencia como um ser movido por aspirações e paixões. Estas constituem a unidade da vontade, compreendida como o princípio norteador da vida humana. Voltando a olhar para a natureza. O filósofo percebe esta mesma vontade presente em todos os seres, figurando como fundamento de todo e qualquer movimento. Para Schopenhauer, a vontade corresponde à coisa em si, ela é o substrato último de toda realidade.
A vontade, no entanto, não se manifesta como um princípio racional, ao contrário, ela é o impulso cego que leva todo ente, desde o inorgânico até o homem, a desejar sua preservação. A consciência humana seria uma superfície, tendendo a encobrir, ao conferir causalidade a seus atos e ao princípio do mundo, a irracionalidade inerente à vontade. Sendo deste modo compreendida, ela constitui, igualmente, a causa de todo sofrimento, uma vez que lança os entes em uma cadeia perpétua de aspirações sem fim, o que provoca a dor de permanecer algo que jamais consegue completar-se. Segundo tal concepção pessimista, o prazer consiste apenas na supressão momentânea da dor, esta é a única e verdadeira realidade.

Para os filósofos Santo Agostinho e Descartes, vontade e liberdade são a mesma coisa: a faculdade através da qual somos dignos de louvor, quando escolhemos o bom, e dignos de reprovação, quando escolhemos o mau.
Agostinho e Descartes concordam em que o fato de nós humanos termos vontade nos torna responsáveis pelas nossas decisões e ações. A dimensão moral do homem decorre do fato dele ter vontade.

As teses defendidas por Shopenhaur, Descartes e Santo Agostinho, nos chamam a atenção para a importância da vontade no ser humano e nos provocam a refletir sobre a influência que ela exerce na vida dos indivíduos.
Ter vontades satisfeitas, gera felicidade. Quando não satisfeitas, geram infelicidade. Portanto, é natural que a tentativa de satisfação de vontades seja tentada. Ansiedade e motivação poderão interferir significativamente na tentativa de satisfação de vontades.
Vontades podem ser criadas ou eliminadas pelo indivíduo?
Há indicativos bastante fortes de que, pelo menos, parte das vontades não dependem do indivíduo, nem para surgirem, nem para serem eliminadas. Tão fortes quanto as vontades de conseguir, são as de repudiar.
Por outro lado, é evidente que podemos agir sobre as vontades, incentivando-as ou reprimindo-as.
Quem nunca sentiu grande vontade de esmurrar alguém que o tenha prejudicado? De comprar algo que não podia pagar? De comer ou beber algo que sabidamente lhe faria mal? Quem nunca sentiu vontade de ficar na cama, num dia frio e chuvoso, deixando de ir ao trabalho ou à escola? Não eliminamos tais vontades, simplesmente as reprimimos, baseados na racionalidade ou na moral.
Repudiar é ter vontade de negar, de não fazer, de evitar. Quem não repudia a perda, o prejuízo, a dor?
É evidente a existência de vontades que demandam satisfação com tanta força, que o indivíduo não consegue opor-se-lhe, por mais que se esforce por consegui-lo. É o caso de algumas paixões e das dependências (de drogas, por exemplo). Há pessoas capazes de verdadeiras loucuras, por não resistir aos apelos da paixão. Dependentes de drogas, quando o sofrimento pela falta dela e pelas conseqüências da vida em que está metido, é extremamente mais forte que o prazer pelo uso; esforçam-se para manter-se abstêmios, mas não conseguem, por mais que se esforcem.
É possível identificar se a força do indivíduo é pequena para resistir a uma vontade ou a força da vontade é que é maior, ainda que a dele seja bastante grande?
Existem métodos infalíveis para resistir a qualquer vontade?

ANSIEDADE E MOTIVAÇÃO
Para evitar interpretações errôneas, vamos definir ansiedade e motivação:
ANSIEDADE: Força que nos impele a conseguir rapidamente a satisfação de vontades, desconsiderando razão, moral ou quaisquer outros valores.
MOTIVAÇÃO: Força que nos move a buscar satisfação de vontades, dando-nos força para tentar, disposição para agir, esperança de conseguir e paciência para esperar.
Tanto uma como a outra, nos impele a tentar satisfazer vontades. A ansiedade, no entanto, é egoísta, irracional e irresponsável, desconsiderando os riscos e prejuízos que sua satisfação poderá causar. Só a sorte pode nos livrar das armadilhas que essa busca de satisfação pode nos aguardar. A ansiedade não ajuda em absolutamente nada, é fonte de sofrimento e causa de prejuízos.
A motivação, ao contrário, é a fonte de energia da vida, nos possibilita enfrentar as maiores dificuldades como se fossem simples obstáculos que podem ser vencidos. Ela permite que busquemos satisfação, respeitando valores, com responsabilidade, mantendo a dignidade, sem culpas, em busca de prazer e felicidade.
Buscar e valorizar motivação, lutando contra a ansiedade, é indispensável para buscarmos satisfação de vontades, que nos propiciem felicidade.
Não podemos criar motivação, nem eliminar ansiedade, pura e simplesmente. Elas são acessórios das vontades. Cabe-nos lutar para valorizar a motivação e lutar contra a ansiedade. É preciso ter consciência do que nos é possível e do que não; para não desperdiçarmos forças, dirigindo-as para onde poderão propiciar-nos melhores resultados.
A ansiedade está presente na dependência, como a de drogas e de jogo; em todas as paixões, causando angústia, forçando satisfações inconseqüentes, cobrando o que não é devido. Ela causa atropelos, desperdício de oportunidades, perdas irreparáveis na dignidade, na moral, na auto-estima. No aprendizado, por exemplo, ela nos força a ter pressa, não dando o tempo necessário para fixar e compreender o conhecimento, causando perda de tempo, obrigando-nos a voltar N vezes para reaprender o que já acreditávamos saber. Ela nos acena com possibilidades de felicidade imediata, que na maioria das vezes é ilusória; desviando-nos do caminho que poderia nos levar à felicidade intensa e mais duradoura.
A ansiedade não é algo que se possa desligar. Ela acontece na maioria dos indivíduos, se não em todos. O que varia entre os indivíduos é a intensidade em que ela acontece. Num mesmo indivíduo, o nível de intensidade pode variar no decorrer do tempo. Há casos em que ela pode ser considerada patológica e a psiquiatria e a psicologia se consideram aptas a enfrentá-la. O importante é saber que ela existe, que pode ter força maior do que a disponível no indivíduo para enfrentá-la e que é preciso opor-se a ela, tentando evitar os males que pode causar.
A ansiedade impede a construção de sonhos, pois estes são constituídos de vontades cuja satisfação sabemos não ser possível a curto prazo, que exigem tempo e trabalho para serem realizados.
Os sonhos são importantes na medida que alimentam boas esperanças de felicidade. Muitas vezes, o sonho oferece felicidade e, não raro, a satisfação da vontade que o gerou, causa frustração. Daí a grande importância dos sonhos: eles significam esperança, exigem paciência, motivam, fornecem alguma felicidade só pela perspectiva de que um dia se realizem, e não são ansiosos.
Nunca é demais lembrar que a felicidade é o objetivo da vida. Que ela depende da satisfação de vontades, que são afetadas por motivação e por ansiedade. Que não depende de nós criá-las ou eliminá-las, pois são autônomas e de origem misteriosa. Portanto, só nos resta apelar para a racionalidade e para a moral, tentando administrar a vontade, em busca de satisfações que propiciem felicidade, reagindo a vontades que causem sofrimento e prejuízos. Podemos dizer que qualidade de vida é resultado da administração de vontades.

SOFRIMENTO
Há pessoas com extrema resistência ao sofrimento enquanto, outras, não suportam nem os menores.
A resistência à vontades, à sua satisfação, implica em sofrimento. Quanto maior a dificuldade para suportar sofrimento, maior a dificuldade para resistir à vontades.
Um indicativo da força da vontade, é a submissão do indivíduo a riscos e sofrimentos muito grandes, para tentar satisfazer sua vontade. Um dependente de drogas enfrenta o risco de ser preso, ferido e, até, morto, para conseguir satisfazer a vontade de consumir a droga; suportando, ainda, grandes humilhações e total perda da dignidade. Crianças, mesmo sabendo que sofrerão bastante, arriscam-se a satisfazer vontades que sabem proibidas.
Se algumas vontades forem inevitáveis e sua força irresistível, é preciso encontrar meios de enfrentá-las, sabendo-se que ameaças de sofrimento não serão suficientes, para enfrentá-las. Pode haver casos em que só nos reste atenuar-lhe os efeitos e preparar-se para sofrer as conseqüências.
Uma coisa parece evidente: as vontades tem escala de valor e prioridade. A que se apresente mais forte e prioritária enfraquecerá a necessidade de satisfação das outras. Se pudermos valorizar e priorizar uma vontade benéfica, em detrimento de outra, causadora de problemas, será uma opção para vencer a indesejável.
Outra coisa a ser considerada, é a possibilidade de permanência da vontade não satisfeita, que ficou eclipsada pela força e prioridade de outra. O fanatismo religioso, por exemplo, tem propiciado que dependentes de drogas se mantenham abstêmios. No entanto, enfraquecida a fé ou tendo o indivíduo acesso à droga, a vontade pode ressurgir com toda a intensidade.

DISCIPLINA

Como conseguir que alunos se motivem a estudar? Como evitar que vontades ansiosas causem grandes prejuízos a ele e à sociedade?
Será que recompensas por comportamentos adequados e pequenos castigos pelos inadequados, podem ser solução para o comportamento de todas as crianças?
Pelo exposto acima, indivíduos são influenciados por vontades em intensidades diferentes, têm capacidade de resistir a sofrimento, também variável, portanto, é muito difícil estabelecer padrões de comportamento para premiar ou castigar, suficientes e necessários para uma coletividade.

O respeito a direitos e deveres é um bom parâmetro para estabelecer disciplina. Pode-se dizer que a disciplina é necessária para que a satisfação da vontade de um, não violente o direito de outros. Quem tente desrespeitar direitos alheios, deverá ser contido, por meios capazes de evitar que isso aconteça, sem ultrapassar a medida suficiente. Que limites podem garantir que um indivíduo respeite direitos alheios, limitando-se à suficiência? Será possível padronizá-los?

COMPREENSÃO DA VONTADE
Um aluno, antes de mais nada, é um indivíduo sujeito a influência da vontade. Se considerarmos a força possível com que ela pode tentar a satisfação, poderemos verificar a influência disso na vida dele. O que a educação tem feito para informá-lo disso e oferecer conhecimentos para que ele possa interferir na vontade?
Que métodos existem para agir sobre a vontade do aluno, possibilitando controlá-lo e mostrando-lhe o que pode fazer para administrar sua vontade, analisando-a racionalmente, possibilitando aproveitar o bom e defender-se do mau, incentivando ou reprimindo a satisfação?
Um aluno que reaja à educação, que a repudie, dificilmente poderá ser influenciado por ela e aproveitar o que ela pode oferecer-lhe. Nessa situação, os conhecimentos que forem tentados incutir-lhe, terão valor desprezível, terá sido trabalho desperdiçado.
Pelo exposto, a vontade deveria receber a maior atenção dos responsáveis pela educação, objetivando potencializar suas características benéficas e conseguindo meios de combater o que ela pode provocar de mau.


VONTADE, O GATILHO DA VIDA
A vontade é o início de todo processo que culminará com a ação do indivíduo. Pode-se dizer que ela é que inicia e alimenta a vida ativa. Portanto, a maneira mais eficaz de influenciar um indivíduo é agir sobre sua vontade. Se pudéssemos incrementar a vontade do positivo e do bom, neutralizando a vontade do ruim e pernicioso, conseguiríamos uma diminuição significativa nos problemas da humanidade. A questão é saber como.
Reunidos em assembléia, os ratos concordaram que a melhor solução para não serem surpreendidos pelo gato seria pendurar-lhe um guizo no pescoço. O tilintar do guizo os alertaria de que o malvado se aproximava. Ótima idéia! Mas... quem colocaria o guizo?


FACILIDADE INICIAL
Tentar realizar vontades e desejos o mais rapidamente e sem qualquer esforço; seria o ideal. No entanto, é comum que o caminho que pode levar à satisfação, seja dificultado por vários obstáculos. Há vontades e desejos que podem ser satisfeitos através de dinheiro ou conhecimento. Tanto um como outro precisam ser conseguidos e, normalmente, exigem trabalho e empenho.
Há casos em que o exigido é o desprendimento, abrir mão de alguma coisa de que dispomos ou a que estamos acostumados.
Dificilmente sentimos vontade ou desejo do que já temos e está disponível.
A tendência à facilidade inicial, provoca o indivíduo a atropelar os obstáculos ao invés de buscar elimina-los ou contorná-los, por meios coerentes e legítimos.
A opção pela facilidade inicial, tende a gerar problemas futuros, que a falta de racionalidade não permitiu prever, podendo tornar a realização de uma vontade ou desejo em resultados desastrosos.
Há indivíduos que desconsideram toda e qualquer dificuldade para a satisfação de um desejo e tentam conseguir seus objetivos irresponsavelmente, sem se dispor a sacrifícios e trabalho, muito menos respeitar direitos alheios. Não sei se isso é uma característica inata ou resultado do convívio social, principalmente da educação.

Depois dessas considerações, não é difícil perceber que dados significativos têm sido desprezados por estudos e análises que têm objetivado solução para muitos problemas. Muito do que alegam ser conhecido, continua sendo um mistério. O pior não é não saber e, sim, acreditar que se conhece o que continua desconhecido. Isso dificulta que o conhecimento continue a ser buscado.


VONTADE
A vontade gera uma emoção, que provoca um sentimento.
Além de necessidades fisiológicas, são os sentidos e a memória que informam à vontade o que pretender.
A moral poderá convocar a razão a considerar a vontade, avaliando-a, oferecendo caminhos para a satisfação e indicando dificuldades; ou deixar que a emoção comande as ações.
A razão avaliará se a vontade tem condições de ser satisfeita de imediato, a médio, longo prazo ou se ela está mais para utopia do que para realização. Indicará que caminhos podem ser trilhados, considerará os valores do indivíduo, propiciando que ele decida se vale a pena, ou não, lutar pela satisfação.
Se a razão não intervier, a vontade só poderá ser freada pelos valores morais. Se o indivíduo desprezar os valores positivos, a vontade terá total liberdade para buscar satisfação pela via mais rápida, sem a menor disposição para enfrentar dificuldades. Mesmo que sejam inúmeros os exemplos de que isso não atinja a satisfação e que, quando atinge, ela é efêmera; esse tipo de indivíduo insiste em optar por esse caminho, desprezando a experiência que mostra o quanto é prejudicial.

Se a vontade do indivíduo não puder ser controlada através da razão e de valores positivos, dificilmente se conseguirá evitar as conseqüências prejudiciais de seus atos. A vontade é a grande motivadora para realizações, mas é, também, a desencadeadora dos maiores problemas do indivíduo e conseqüentemente, da sociedade.
A vontade de ganhar dinheiro é comum a praticamente todo indivíduo. A maneira como cada um tenta consegui-lo é que os diferencia.
O trabalho é o meio mais usado par conseguir o objetivo. Isoladamente, dificilmente ele propicia mais que o necessário para a sobrevivência. O que se associa a ele é que fará o diferencial.
Trabalho braçal
Talento + trabalho
Talento+estudo+trabalho
Talento+estudo+racionalidade+trabalho
Talento+estudo+racionalidade+sorte+trabalho
Quanto maior e mais eficiente for o que se associa ao trabalho, menor será o esforço necessário.
Facas, machados, foices, serrotes, em fim, ferramentas de corte, quando cuidadosamente preparadas e afiadas, diminuirão em muito o esforço exigido no trabalho, com resultados de melhor qualidade. Para tanto é necessário investir trabalho na preparação das ferramentas.
Um músico talentoso terá facilidade para tocar um instrumento. Se estudar o que outros já descobriram a respeito do instrumento e o que ele pode propiciar; conseguirá muito mais qualidade em um tempo bem menor, do que se tentasse descobrir esses detalhes por experiência própria. O estudo tem como objetivo poupar tempo e esforço na tentativa de descobrir o que já é conhecido. Sem talento, o músico poderá aprender a tocar um instrumento, porém com mais dificuldade e menor qualidade.
Se a razão for desconsiderada e a moral não oferecer restrições, o indivíduo tentará conseguir satisfação atropelando tudo e todos, sem preocupação com os males que possa causar. Poderá optar por roubar ao invés de trabalhar para conseguir o pretendido, por exemplo.
As informações acima são de conhecimento da maioria das pessoas, no entanto, a falta de compreensão as impede de usá-las para evitar ou resolver problemas. Que esperar de pais e educadores que defendem o que acham certo e criticam o que consideram errado, sem compreender os porquês de tais aceitações e rejeições? Grande parte das pessoas julga, aceita ou rejeita, com base em preconceitos que nunca questionou e que, portanto, desconhece sua validade ou não. Isso é causa de muito do que sofrem, no entanto, por ignorância, esforçam-se para que os filhos e alunos aceitem o que defendem, mas não compreendem. É comum que quando questionados, por filhos ou alunos, sobre a validade desses preconceitos, os adultos se neguem a discuti-los e tentem impor a aceitação. O autoritarismo é um grande dificultador da educação.
Como dito acima, a vontade costuma rejeitar as recomendações da racionalidade, insistindo para ser satisfeita. Muitas vezes os riscos de prejuízos são aceitáveis e vale a pena experimentar para se livrar da pressão da vontade. Outras vezes, no entanto, os prejuízos podem ser significativos, ocasionando custos elevadíssimos para benefícios irrelevantes. Nesses casos a vontade deve ser refreada a qualquer custo. Principalmente os pais devem atentar para isso, não cercear experiências que possam ensinar com riscos aceitáveis e impedir aquelas cujo custo é inaceitável. Para tanto, pode ser necessário usar a autoridade quando não possível convencer pela argumentação. É preciso diferenciar autoridade responsável e autoritarismo comodista.


VONTADE
A vontade aparecia, sem que se soubesse como, vasculhava a memória e os sentidos em busca do que desejar. Identificado o objetivo, se empenhava em tentar satisfaze-lo. A moral tentava interferir, assim como a razão. Ela, no entanto, fugia delas quando percebia que pretendiam dificultar ou impedir seu objetivo. Quando lhe eram favoráveis, abraçava-se a elas, aproveitando tudo que ajudasse na satisfação.
Era grande geradora de pensamentos parasitas, servindo-se de todo tipo de artifício para conseguir seu objetivo. Criar pensamentos obsessivos, dificultar a razão e a moral, envidavam seus maiores esforços.
Quando a tentativa de satisfação se mostrava frustrada ou, até, verdadeira tragédia, ela sumia sem mais nem menos, deixando o problema para a razão, a emoção e a moral.
Quando razão e moral eram muito fracas, logo ela aparecia novamente, com outro objetivo, com o mesmo desejo de satisfação, como se não tivesse nada a ver com o fracasso anterior. O ciclo se repetia até que a satisfação fosse tentada de novo.
Os desejos não satisfeitos ficavam depositados, perdendo força no decorrer do tempo. Alguns deles ficavam perambulando pela mente, despercebidos pelo consciente, gerando vários problemas, principalmente, na emoção e, não raro, no próprio funcionamento do organismo. Aliás, esse era um dos artifícios usados pela vontade ativa: gerando mal estar orgânico, provocado por interferência no sistema biológico.
Hoje já não é tão comum, mas antigamente, principalmente entre os mais humildes, era comum a chamada somatização, distúrbios orgânicos causados por vontades insatisfeitas. Era comum que, anormalidades no corpo, principalmente manchas, fossem atribuídas a desejos insatisfeitos da mãe, durante a gestação. Isso fazia com que maridos saíssem de madrugada em busca de satisfazer desejos, os mais extravagantes, anunciados pela mulher. Esses desejos dificilmente se dirigiam para coisas simples, que estivessem à mão. Na maioria das vezes, eram coisas raras e difíceis de encontrar. Dá pra desconfiar que o principal objetivo do desejo era sacrificar o marido.
Crianças que não tinham seus desejos satisfeitos, tinham febre, diarréia, vômitos, geravam vermes no intestino, etc. O objetivo da maior parte desses desejos eram comidas e bebidas.
DEPENDÊNCIA
Era comum a presença de vontades obsessivas, dominadoras, resistentes a qualquer tipo de repressão. Os objetivos dessas vontades eram os mais variados: chocolates, doces, aparência corporal, dinheiro, poder, paixão, álcool, drogas, apropriar-se do que não lhe pertencia, etc.
Pessoas não admitiam ser vistas com aparência que não julgassem convenientes. Essas pessoas costumavam gastar grande tempo cuidando da aparência, tendo dúvidas tremendas sobre como se pentear, que tipo de roupa usar, que calçado, que gestos e expressão corporal adotar, etc.
Crianças que tinham verdadeira fobia de sentir-se sós, ainda que a mãe estivesse próxima, mas fora de seu campo visual. Outras que choravam desesperadamente porque tinham perdido a chupeta. Havia as que sofriam terrivelmente, inclusive com distúrbios orgânicos, quando perdiam um animal de estimação.
Pessoas com verdadeira compulsão por comprar. A vontade não era pelo que estivesse à venda, mas pelo ato de comprar. Essas pessoas chegavam a comprar o que não podiam pagar, nem necessitavam, o que gerava grandes problemas.
Pessoas obesas, com grande vontade de emagrecer, não conseguiam porque a vontade de ingerir alimentos, principalmente doces e chocolates, superava a vontade de mudar a estética. A vontade de ingerir alimentos e guloseimas era muito maior que a de emagrecer, provocando efeito contrário: aumento do volume e peso do indivíduo, gerando mal estar físico e psicológico, sucumbindo à vontade maior.
Em outras pessoas a vontade de atingir uma estética desejável, as levava a parar de comer, de se alimentar o mínimo indispensável, superando a fome ou qualquer vontade por alimentos e guloseimas. Não raro, algumas dessas pessoas adoeciam por falta de energia biológica. Mesmo assim, não conseguiam se opor à vontade de emagrecer.
A vontade de ser notado, chamar a atenção para si; levava o indivíduo a apelar para qualquer coisa que, segundo sua imaginação, poderia lhe render a satisfação pretendida.
No passado era assim. Continua sendo.
Roupas extravagantes, tatuagens, cortes e cor de cabelo, agressividade, prática de esportes radicais, corridas e manobras radicais com carros e motos nas ruas, atentado ao pudor; entre tantas outras apelações com o objetivo de “aparecer”.
Eu fui fazer paraquedismo e vôo livre, mais pela vontade de reconhecimento e admiração, do que pela emoção obtida. Na época eu não sabia disso, mas hoje estou convicto de que a causa principal foi essa.
Muita ajuda que prestei, muitas coisas que arrisquei, muito do que fiz durante a vida; devem Ter sido motivados mais pela vontade de “aparecer” do que outra coisa qualquer.
Para muitos intelectuais, o conhecimento adquirido foi motivado pelo desejo de reconhecimento e de causar admiração. Eles fazem questão de florear tudo, fazer crer que detém grande conhecimento e de alta qualidade; o que é muito difícil ser conseguido por simples mortais. Supervalorizam seu conhecimento e não perdem oportunidade de ostentá-lo.
Muitos escritores, escrevem, mais para mostrar sua erudição do que para transmitir com clareza suas idéias. Escrevem textos ininteligíveis, cheios de palavras raras, tentando complicar ao máximo a leitura e, principalmente, o entendimento. É a literatura discriminatória que exclui os que não sejam tão “eruditos” quanto o autor. Quando o objetivo é transmitir idéias, elas devem ser colocadas da maneira mais simples possível, para que possam ser compreendidas sem maiores esforços, dispensando erudição do leitor ou do ouvinte.
A vontade de causar admiração, ser reconhecido, aplaudido e elogiado; pode superar qualquer outro valor ou vontade, dominando o indivíduo, obrigando-o a fazer o possível e o impossível para satisfazer essa vontade. É uma verdadeira dependência.
Há os que, não tendo coragem nem disposição para trabalho e sacrifícios; optam por destacar-se através da ficção. São os grandes mentirosos, que se esforçam para parecer o que não são. Contam façanhas que teriam feito, tentam demonstrar conhecimento que não têm, capacidades inexistentes, coragem que não conhecem, em fim, são produtores de uma fantasia de si mesmo, tentando fazer crível o que não passa de pura mentira. É comum que esse tipo de indivíduo viva sendo ridicularizado pois, mesmo demonstrando grande capacidade criadora; costuma exagerar, acelerando a descoberta de seu embuste. O ridículo é menos sofrível, para ele, do que o não ter sua vontade de “aparecer” satisfeita. Essa vontade o domina e o impede de contrariá-la, mesmo que ele tenha consciência dos prejuízos que isso lhe causa.
Acreditando que suas mentiras surtem efeito, mente para justificar seus atos, para encobrir seus erros, em fim, mente. Ele, mais que os outros, acaba acreditando nas próprias mentiras, enganando-se, vivendo fantasias como se fossem realidade. Tudo estava ali, na sua mente, atrás do tapume. A vontade usando a razão para inventar mentiras e argumentos que as justificassem. A memória registrava como verdadeiras muitas das fantasias criadas. A própria emoção era manipulada, ajudando na interpretação que ele apresentava. Ele era um autêntico marionete, manipulado pela vontade, que usava as outras características mentais.
O tipo de dependência mais reconhecido como tal, é o de consumo de álcool, drogas, fumo e jogo. Nem todos que experimentam ou, até, usam, se tornam dependentes. Dificilmente alguém é dependente de todas elas, embora possa ser usuário e praticante de todas. Um indivíduo pode ser dependente do fumo e, mesmo usando cocaína, maconha e álcool, possa deixar de usá-los sem problemas. Outros podem ser dependentes de jogo e só fumar e beber socialmente, podendo usar drogas esporadicamente. No entanto, se ele experimentar algo de que é potencialmente dependente, se tornará escravo de uma vontade irresistível.

Uma das vontades mais forte e persistente é a de resolver problemas num passe de mágica, sem esforço e, se possível, imediatamente. Esperar por milagres ou qualquer tipo de ajuda divina, sem fazer o que estiver a nosso alcance, é tentador. Como seria bom que todos os problemas pudessem ser resolvidos assim, não é?

MISTÉRIO
A vontade comanda nossas vidas e, muitas vezes, ela independe de nossa participação consciente para interferir nela, tanto no aparecimento, quanto na sua manipulação. O que a provoca, lhe dá tanta força e dificulta que seja influenciada pela razão?
No filme: “Forrest Gump, o contador de estórias”; o protagonista é um homem simples, obstinado, desempenhando atividades que lhe são impostas, com determinação e sem reclamações. Ele não questiona, não é prepotente, nem egoísta; simplesmente faz, como que comandado externamente, com muito poucas emoções e um mínimo de racionalidade. Na guerra, ele carregava os companheiros nas costas, mesmo contra suas vontades, objetivando salva-los, demonstrando o quanto valorizava a vida. Considerando o sonho do amigo, morto na guerra, que desejava ser capitão de um barco pesqueiro de camarões; empregou todas suas economias para comprar um barco e tentar realizar o sonho do amigo. Sua vontade era realizar a do amigo, sem ambição, sem qualquer outra motivação.
A total dedicação ao que fazia, associada ao talento, tornou-o grande corredor e jogador de tênis de mesa. Fazia isso naturalmente, sem pretensões, sem outros motivos que a vontade de faze-lo.
Quanto às emoções, demonstrava amor pela mãe e pela Jenny, sem exigências, totalmente disposto a se doar. Sentiu grande amizade por Bubba e pelo tenente, sendo leal e demonstrando total dedicação. Ele não se frustrava, porque não desejava o que não podia. Alcançou grande sucesso, não porque o desejasse, mas como conseqüência do que fez, pela simples vontade de faze-lo, obedecendo a comando externo a ele, que agia em seu interior.
Não sei se a intenção do autor foi ressaltar a influência do mistério na vida. No entanto, o filme mostra essa possibilidade e a vida mostra indícios muito fortes de que isso acontece.
A dependência escraviza o indivíduo, impossibilitando-o de reagir a essa vontade. Pessoas cometem verdadeiros suicídios morais, econômicos, emocionais; dominados por vontades a que não conseguem reagir e impedir.
É fundamental tentar agir sobre a vontade, incentivando-a ou reprimindo-a, com base na razão. No entanto, é preciso considerar a possibilidade de não conseguir resistir-lhe, preparando-se para sofrer as conseqüências e, se possível, minimiza-las.
É importante perceber o quanto é difícil tentar fazer algo de que não se tem vontade. Para que algo possa ser tentado, sem grandes sacrifícios, é importante encontrar uma vontade que o justifique. É possível fazer uma grande caminhada, que não gostaríamos de fazer, se o que nos espera lá for objeto de nossa vontade.


VONTADE: Ela é uma força muito grande que age sobre o indivíduo. Não é raro que ela o domine totalmente. que o force a viver exclusivamente para tentar satisfaze-la, desprezando a racionalidade e as conseqüências. Ela age como a emoção, provocando sentimentos e forçando o indivíduo a agir para satisfaze-la. Pode-se considerar que ela seja um componente da emoção ou que ela aja sobre esta, que provocará os sentimentos. Ela motiva o indivíduo para realizações benéficas, mas pode escraviza-lo, gerando dependências maléficas e causadoras de sofrimento. O problema é a sua força que, muitas vezes, suplanta a do indivíduo para opor-se a ela. Os valores considerados como bons pelo indivíduo costumam rejeitar algumas vontades que os contrariam. O dependente de drogas não admite que o seja, que é totalmente dependente delas. O cleptomaníaco, também não consegue admitir sua condição. O ladrão, o corrupto, o vigarista, entre outros marginais; agem em desacordo com os valores que defendem em sociedade, o que os impede de aceitar que ajam contra os princípios e valores que defendem, obrigando-os a negar sua condição e, quando isso for impossível, tentar justificar seu procedimento, alegando causas muito fortes. Isso os obriga a interpretar papéis que camuflem a verdade, Muitas vezes, essa interpretação é encenada para eles próprios, que não conseguem aceitar seus erros.
O que leva o indivíduo a roubar é sua vontade de Ter dinheiro ou qualquer bem. Sua incapacidade para consegui-lo por meios lícitos, causada pela preguiça e pelo comodismo; levam-no a delinqüir. O que propicia ao indivíduo continuar a ser safado, são as desculpas que ele inventa para suas safadezas. A vontade gera a dependência de drogas e de outras coisas. A falta de dinheiro para satisfazer o vício, leva-o a manipular, mentir, roubar e procurar todo e qualquer meio para satisfazer sua vontade sem Ter que trabalhar ou se submeter a qualquer sacrifício normal. É interessante observar que essa situação lhe causa grandes problemas e sofrimento, em troca de pequenos tempos de prazer. É um custo muito alto para um benefício pequeno. A maioria dos dominados pela vontade vivem se frustrando, não conseguindo satisfaze-la, acumulando prejuízos materiais e morais. Isso não os faz compreender o quanto são escravos da vontade, nem lhes proporciona perceber a necessidade de mudanças. Isso mostra que as coisas são fruto de nossa interpretação e não uma realidade concreta. Para o dependente da vontade seus pensamentos e ações são o certo e não os erros que o senso comum e a racionalidade apontam. Para eles, o pequeno benefício pode valer o alto custo. O socorro, nas situações piores, propicia-lhe continuar sem mudanças. A falta de socorro poderia proporcionar-lhe verificar que o custo seria muito maior que o benefício, provocando mudanças. Será?

O QUE FALTA NA EDUCAÇÃO?

PROVÁVEIS CAUSAS DOS PROBLEMAS NA EDUCAÇÃO
Me ocorreu escrever um resumo do que identifiquei, até aqui, como problemas fundamentais da educação e, por conseqüência, da humanidade.
VONTADE
PREPOTÊNCIA
PRECONCEITOS
BUROCRACIA

O não identificar os efeitos que a VONTADE pode provocar, leva a buscar soluções, para o que ela causa, em outras coisas. Diagnóstico errado, provoca ações em causas irreais, portanto, o problema continuará existindo uma vez que a causa verdadeira continua intocada.
A PREPOTÊNCIA impede o questionamento, impedindo que o erro seja constatado, fazendo crer desnecessária a investigação para buscar soluções.
Os PRECONCEITOS são incentivados pela prepotência e, eles a apoiam, concretizando os efeitos danosos.
A BUROCRACIA exagerada, exige uma série de atividades que ocupam muitos recursos, retirando-os da atividade principal. Ela tende a engessar a atividade principal, dificultando a criatividade e conseqüentes mudanças.

Acredito que os principais problemas da educação, estão na disciplina e na comunicação.
A disciplina é necessária para o respeito a deveres e direitos. Ela é necessária para administrar vontades que tentam satisfação, independente dos prejuízos que possam causar. O ideal é conseguir a disciplina através da conscientização, no entanto, quando isso se mostrar insuficiente, é necessário impedir que as vontades provoquem sofrimentos e prejuízos. Para tanto, devem ser usados os meios que se fizerem necessários, sem exageros. Na medida da necessidade, nunca além dela. Disciplina não deve ser confundida com autoritarismo. Ela é o fundamento para o respeito aos direitos e deveres do indivíduo.
A comunicação é fundamental para que conhecimentos e idéias possam ser transmitidas e assimiladas. Sem capacidade de interpretação, o aluno terá enorme dificuldade para assimilar os conhecimentos que lhe forem disponibilizados. Sem capacidade de exposição, ele terá dificuldade para transmitir suas idéias. Portanto, a dificuldade de comunicação, dificulta a assimilação de conhecimento, o questionamento, o aprimoramento e a evolução. Não capacitar o aluno para a comunicação, é torná-lo escravo de um universo reduzido e composto de tabus e preconceitos.

Grande parte dos alunos vai a escola como quem se submete a um grande sacrifício e, só o fazem porque são obrigados. Outros tantos, vão para brincar e Ter contato com os colegas. São raríssimas exceções os que compreendem a importância da educação. A educação não tem conseguido motivar o educando. O ideal seria que o aluno sentisse prazer em aprender, como o prazer das brincadeiras.
Afrontar a disciplina é conseqüência da vontade que repudia interferências que tentem impedir sua satisfação. Por outro lado, é o repúdio a submeter-se a vontades que não tem.
Conseguir incentivar as vontades positivas e reprimir as negativas, é o ideal para conseguir o máximo de felicidade e harmonia, minimizando sofrimentos e desavenças.
Se o indivíduo compreender essa necessidade e se dispuser a colaborar nesse sentido, a solução da maioria dos problemas acontecerá com maior facilidade, até porque, grande parte deles não chegará a acontecer.
Para que o indivíduo compreenda isso, é necessário que ele compreenda o que acontece dentro de si, interpretando as indicações, analisando-as racionalmente e decidindo com dignidade, baseado na justiça, na luta pelos direitos e disposição para assumir os deveres.
Para compreender é necessário Ter conhecimentos, para conhecer é preciso Ter capacidade de assimilá-los, o que exige interpretar bem a sua transmissão. O ideal é que o transmissor explicite claramente a informação e que o receptor a capte sem distorções. Para saber se isso aconteceu, é importante que o receptor diga o que entendeu e o transmissor confirme que não houve distorção no entendimento. Portanto, tanto transmissor, quanto receptor, devem possuir capacidade de comunicação.
O questionamento é possível, importante e salutar. No entanto, ele chega a ser desperdício de tempo e esforço, quando causado por deficiência de comunicação. O transmissor diz uma coisa, o receptor entende outra, ocasionando uma discussão, onde um defende uma coisa e o outro contesta outra. Discutirão sobre coisas diferentes, considerando que se referem à mesma, por pura incapacidade de comunicação. O receptor entendeu erradamente o que lhe foi transmitido. O transmissor não percebeu que o receptor interpretou erradamente o que ele lhe transmitiu. O receptor acredita que entendeu bem o que o transmissor lhe passou e o transmissor também acredita nisso. O receptor poderá atacar o que entendeu, enquanto o transmissor defenderá o que pretendeu transmitir. São duas coisas diferentes. É como se, em um jogo de futebol, cada time jogasse com uma bola, acreditando que jogavam com a mesma.
Boa parte dos problemas se originam na deficiência de comunicação. São inúmeros os exemplos que evidenciam isso.
O indivíduo precisa saber que isso é uma fonte de problemas e dispor-se a aprender o conhecimento existente que pode evitá-los.
Aprender comunicação é um processo lento. São vários os meios envolvidos na comunicação: visão, audição, tato, olfato, paladar, fala, escrita, signos, sentimentos, natureza, etc. É muito grande a quantidade de conhecimento já existente sobre isso. O indivíduo tem um ritmo de assimilação de conhecimentos, que o impede de acelerar o processo natural.
Enquanto aprende, o indivíduo deverá ser orientado, protegido e mantido sob controle, para evitar que se prejudique ou cause prejuízos a outros.
O aprendizado vai capacitando o indivíduo a conquistar graus cada vez mais elevados de autonomia, proporcional à responsabilidade que pode assumir. Isso exige alterações na disciplina no decorrer do tempo. Ela é sempre necessária, mas deverá ser diferenciada para condições, situações e capacidades diferentes.
A disciplina terá características diferentes quando se aplicar a crianças, adolescentes, adultos. Uma criança exigirá cuidados maiores que um adolescente que, por sua vez, os exigirá maiores do que um adulto. Um adulto terá direito a maior liberdade que um adolescente e, este, que uma criança, desde que tenham conhecimento e compreensão proporcionais.
Pelo exposto, verifica-se que o fundamental da educação é propiciar que o educando se capacite para a comunicação e que respeite a disciplina. Isso lhe propiciará aprender, compreender, questionar, modificar e criar, respeitando direitos e deveres.
Não se pode desconsiderar a particularidade das características dos indivíduos, que exige maleabilidade no trato com eles. É preciso identificar essas características incentivando as positivas e reprimindo as negativas. O indivíduo deve fazer parte desse processo, ajudando na identificação, buscando seu auto-conhecimento. A identificação de talentos é fundamental. Fazer algo para o que se tem talento, propicia prazer e felicidade, evitando sacrifícios e sofrimento. Uns têm facilidade para liderar enquanto, outros, preferem ser liderados. Uns são criativos enquanto, outros, se adaptam melhor a rotinas. Uns são apáticos enquanto, outros, são ansiosos. Em uns a emoção predomina enquanto, em outros, predomina a racionalidade. É difícil tratá-los igualmente como se fossem absolutamente iguais.
No entanto, é difícil, em um grupo, otimizar o tratamento individual. É necessário tratar o grupo sem desconsiderar o indivíduo.
Em um grupo de alunos, por exemplo, haverá os que tem tempos diferentes para assimilar informações. Se não for possível dispor de tempo extra para os que o necessitam; os que assimilam mais rapidamente terão que esperar. Como o tempo de escolaridade é comum a todos os alunos, é evidente que uns sairão com mais conhecimentos que os outros ou, conseguindo que todos consigam os mesmos conhecimentos, uns se esforçarão menos que os outros, resultando em perda de potencial. No entanto, se não houver alternativa, há que conformar-se com isso.
O razoável é que se aproveite o potencial do aluno, oferecendo condições diferenciadas. É natural que isso resultará em diferentes níveis de conhecimento e compreensão entre os egressos de um mesmo período escolar. Se isso for considerado injusto, é necessário oferecer períodos diferenciados. Na prática isso é muito difícil de se conseguir.
Se é praticamente impossível que o professor atenda as características individuais dos alunos, é importante que se explore ao máximo a potencial dos menos capacitados, enquanto se incentiva que os outros busquem, autodidaticamente, explorar seu potencial maior. A facilidade de comunicação permite isso. O aluno poderá pesquisar nos mais variados meios disponíveis, tanto material, quanto pessoal.
É preciso admitir a naturalidade da diferença entre indivíduos, porque é óbvia e não temos como interferir significativamente nela. Isso não pode ser usado para caracterizá-los como melhores ou piores, simplesmente são diferentes. Cada tipo de atividade exige conhecimentos específicos, mais ou menos abrangentes, em maior ou menor quantidade. Enquanto umas exigem maior conhecimento, outras exigem outras características. Umas exigem maior racionalidade, outras, maior emoção. Enquanto umas exigem grande número de informações, outras só exigirão coragem, esforço físico, condicionamento, em fim, características pessoais, independentes de maiores informações.
Historicamente, o conhecimento tem sido supervalorizado. Durante muito tempo ele era privilégio de uns poucos, que o sonegavam, mantinham-no como grande segredo. O conhecimento tem servido para dominar e explorar, propiciando grandes vantagens a quem o possuía. Os possuidores de conhecimento buscavam aumentá-lo ao mesmo tempo que se esforçavam para que a ignorância prevalecesse entre os não privilegiados.
Isso criou uma distorção na valorização do conhecimento. Ele é uma ferramenta e, como tal, serve para facilitar. Portanto, sua importância está ligada à utilidade. Não é a quantidade que propicia ajuda e, sim, a qualidade e a especificidade. Como isso pode ser variável no tempo e no espaço, para um mesmo indivíduo; o importante é que ele possa obter conhecimento na medida necessária, no tempo em que for exigido.
À educação cabe preparar o indivíduo para conseguir o conhecimento necessário, em qualquer tempo. O objetivo fundamental da educação é preparar o indivíduo para aprender, buscar o conhecimento necessário, interpretá-lo, questioná-lo, aperfeiçoá-lo e usá-lo. Essa capacidade é que diferencia os indivíduos e, não, a quantidade de conhecimento que possuam.
Há intelectuais que não são capazes de interpretar um manual de operação de um simples eletrodoméstico; que não conseguem interpretar a fala de uma pessoa ignorante, que se embaralham com os próprios sentimentos, embora conheçam muito de literatura, de ciência e de artes.
Portanto, a educação terá conseguido seu objetivo se conseguir que o indivíduo busque o conhecimento de que necessita para facilitar a vida e possa usá-lo com eficiência.

CONSTATAÇÕES
A infância é uma fase na vida de uma pessoa.
Nessa fase ocorrem grandes modificações físicas e mentais. A criança aprende a falar, andar; toma contato com a sociedade e a natureza, descobre emoções e sentimentos; em fim, é a fase em que acontecem grande número de modificações.
Muito do que acontecer na infância acompanhará o indivíduo pelo resto da vida e algumas coisas influenciarão significativamente o futuro.
Um bebê saudável é fonte de prazer e felicidade para os mais velhos. Todos sentem prazer em tocá-lo, pegá-lo, acariciá-lo, sentir a suavidade de sua pele, admirar sorrisos e, até, caretas. Quando começa a falar, é grande diversão para os que o circundam, o mesmo acontecendo quando começa a andar. Pode-se dizer que, nessa fase, a criança mais dá do que recebe.
Depois dessa fase a criança vai ganhando autonomia e começa a Ter negadas algumas de suas vontades, porque quer o que não pode ou porque não querem satisfaze-las.
Desde a mais tenra infância, a criança aprende a manipular situações e condições para tentar satisfazer suas vontades. Grande parte das manipulações se dirigem ao emocional de quem ela pretende conseguir a satisfação; seja enternecendo-o ou espicaçando-o.
A criança acaricia ou faz gracinhas para conseguir satisfação. Outra, provoca irritação e mal estar em quem pretende manipular, que atenderá seu desejo para livrar-se do incômodo. Outra se queixará de dores para conseguir algo ou livrar-se do indesejável. Parece ser inata essa capacidade de manipular, uma vez que dificilmente alguém as ensina a fazer isso.
Essa característica pode causar muitos problemas de convivência, obrigando ações para evitá-los ou resolvê-los. É hora da disciplina ser convocada para que direitos sejam respeitados e deveres sejam cumpridos.
A disciplina deve ser o mais simples possível, coerente, racional, necessária e suficiente. Isso é que o difícil de ser conseguido.
Cada indivíduo tem características particulares o que impede, praticamente, parâmetros rígidos de disciplina. Parece que o melhor é basear-se nos direitos e deveres, possibilitando discussão de controvérsias e conclusões sensatas. Quando não for possível o entendimento, alguém tem que decidir e assumir a responsabilidade. Claro que entre uma criança e um adulto, caberá a este tanto a decisão como a responsabilidade.
É comum que adultos tomem a decisão num problema com crianças, o que não é tão comum, é que assumam a responsabilidade por essa decisão. Um dos exemplos disso, é a chamada paternidade irresponsável, quando os pais decidem Ter o filho, mas procuram eximir-se da responsabilidade por ele. Outro exemplo, diz respeito a pais que atendem a desejos dos filhos, sem avaliar as conseqüências e não assumem a responsabilidade pelo que causaram, tentando incutir a culpa a outros motivos ou pessoas.
Um problema bastante comum é o ocasionado pela supervalorização do material, principalmente, do dinheiro que pode comprá-lo; em detrimento dos valores pessoais. Supervaloriza-se um presente, enquanto não se valoriza suficientemente um carinho, um reconhecimento, um ato de lealdade, de solidariedade, uma admiração, um afeto, um amor; em fim, coisas que tanto prazer provocam e tanta felicidade podem propiciar. Recompensa-se com presentes e castiga-se não os dando; em detrimento de valores pessoais que propiciariam efeitos muito melhores.
O pior castigo que se pode dar a uma criança, é um futuro sofrível, conseqüência de ações deletérias nos poucos anos da infância. Muito do que se considerou como benefício para a criança nos primeiros doze anos, poderão causar sofrimento pelo resto da vida que pode perdurar por cinqüenta anos ou mais.
Bens materiais e conforto são desejáveis, desde que não se esqueça do valor dos sentimentos e das características pessoais que os propiciam. O importante é o que o indivíduo sente, independente do que causa esse sentimento. Amor, carinho, reconhecimento ou admiração, podem causar muito mais felicidade que um presente caro.
É importante que a criança aprenda, o mais cedo possível, o poder da vontade e a dificuldade de satisfazer muitas delas. Compreendendo isso, a criança sofrerá menos frustrações, possibilitando isso ao adulto que será. Quem não compreender isso, acreditando que tem direito de satisfazer todas as vontades, terá muito a sofrer quando a verdade mostrar o contrário.
Educar é proteger sem superproteger, amar e acariciar sem mimar, é propiciar o possível e possibilitar compreender a impossibilidade, é exaltar a felicidade preparando a resistência ao sofrimento. É oferecer o máximo de condições para que o indivíduo assuma sua vida, aproveitando-a o melhor possível, lutando por seus direitos, respeitando os alheios, sem se negar aos deveres que lhe cabem.
Não incentivar o indivíduo a conhecer-se, identificar seu potencial positivo e negativo, negar-lhe conhecimentos que facilitem isso, pode ser considerado um crime hediondo, pois condena a muitos sofrimentos que poderiam ser evitados e desperdício de felicidade que poderia ser desfrutada.
Educar exige sacrifícios, tanto do educando quanto do educador. O esforço para minimiza-los deve ser feito, no entanto, não se deve aceitar que, descontos aqui, representem altos encargos futuros.

QUE É ISSO COMPAN HEIRO?

Acabo de ler o livro: “Que é isso companheiro?” de Fernando Gabeira. Me chamou a atenção para algumas particularidades que ocorrem na sociedade, por causa da mente humana, seus mistérios e as verdadeiras maluquices dela resultantes.
Durante a ditadura militar que sucedeu o golpe de sessenta e quatro; o governo desenvolveu um sistema de contra-terrorismo que acabou com os sonhos, ilusões e fantasias dos revolucionários que pretendiam desbancar a ditadura, aniquilar o capitalismo e implantar o socialismo na nossa terra.
Os revolucionários tinham em seus quadros pessoas inteligentes, intelectuais, valentes, dispostos a dar a própria vida em prol da causa que defendiam. Estudaram muitas táticas e estratégias de guerrilha, de como atrair ou despistar os adversários, de como divulgar suas idéias em busca de adeptos, de como identificar inimigos, etc.
Para combater a guerrilha, o governo montou um sistema composto pelas forças armadas, polícias militares e civis dos estados. Embora não se possa duvidar de que existiam patriotas e idealistas entre o repressores, não é razoável imaginar que superassem os revolucionários nessas qualidades.
Os revolucionários não dispunham de meios materiais para efetuar uma revolução armada. Afim de conseguir os meios necessários, entraram em ação, no que chamavam de guerrilha urbana, que consistia em praticar assaltos de vulto, para conseguir dinheiro e armas. Assaltavam bancos, carros pagadores, empresas industriais e comerciais.
Esses guerrilheiros eram de um idealismo extremado, verdadeiro fanatismo. Além da disposição para morrer pela causa, mantinham uma disciplina rígida no que diz respeito à segurança da instituição que defendiam. Tinham grande preocupação com o que, quem fosse preso, pudesse delatar os companheiros e o aparato que usavam.
Entre as ações de guerrilha urbana, seqüestraram cônsules e embaixadores, que trocaram por companheiros presos.
Os orgãos de repressão investigavam, prendiam e torturavam, acumulando informações que permitiram aniquilar a pretensão dos que pretendiam derrubar a ditadura pela luta armada.
Imagino que se os guerrilheiros tivessem usado a tática da repressão, de capturar e torturar, seqüestrando elementos da repressão que tivessem informações a fornecer; a história poderia Ter sido bem outra. A guerrilha poderia não Ter perdido tantos elementos, enquanto poderia Ter enfraquecido as forças repressoras.
Até essa época, eram raríssimos os assaltos de grande escala. Os guerrilheiros mostraram aos bandidos comuns que isso era possível e não difícil como imaginavam. A guerrilha terminou, mas os assaltos atrevidos continuaram e se multiplicaram, não mais por ideologias e, sim, por egoísmo.
Bandidos aprenderam muito, tanto com os terroristas como com os meios de repressão. Aprenderam técnicas e possibilidades que desconheciam.
Entre os revolucionários havia várias facções. Eram várias porque não eram capazes de concordar em ideais, métodos e técnicas. Todas as facções queriam derrubar a ditadura, mas, se tivessem conseguido, como governariam com tantas divergências?
A chamada esquerda, sempre lutou pelo que considerava melhor para o povo, principalmente os pobres que, sem dúvida, são a esmagadora maioria no mundo, principalmente no terceiro.
A direita, considera a incapacidade do indivíduo comum de decidir o que é melhor para ele. Considera que ele deverá ser conduzido, para o seu bem e, principalmente, para o bem de quem o conduz.
A diferença entre esquerda e direita, é que a primeira, pretende que os que pretende defender, cerrem fileiras e lutem pelo que os idealistas consideram direitos a conquistar. A direita não quer ação das massas, simplesmente quer obediência. Ao invés de luta, de sacrifício, pede paciência e obediência, prometendo satisfação de suas vontades.
A esquerda pede ação ao povo, que lute, que se arrisque para conseguir igualdade. A direita pede que o povo permaneça inerte, tranqüilo, que tenha paciência e obedeça, prometendo melhorias, crescimento sem limites, possibilidade de riqueza, de se sobressair, de se comparar e, até, ultrapassar a quem ele inveja.
As tentativas da esquerda para impor sua ideologia, é uma evidência de que o ser humano não prima pela solidariedade. Não pretende a igualdade, deseja sobressair, ser mais que os outros, ser reconhecido e admirado, ostentar poder e domínio. É a evidência do egoísmo sobre a solidariedade.
Enquanto o ser humano acreditar que a felicidade é resultado de conquista de bens materiais, dificilmente aceitará lutar por igualdade, defendendo a solidariedade. Enquanto ele cultuar o poder, dificilmente lutará contra ele, uma vez que seria lutar contra o que sonha conquistar.
A história mostra que o povo só lutou em revoluções e guerras, quando obrigado pelo poder ou quando considerou que não tinha mais nada a perder. Enquanto o indivíduo considerar que tenha algo a perder, por pouco que seja, relutará em arriscar. O egoísmo pretende conquistas, mas repudia o risco, a não ser que o benefício prometido seja compensador.
Antes de pedir ao povo que lute por igualdade, é necessário mostrar-lhe que isso pode ser fonte de felicidade. Que ela é o objetivo da vida e que depende da satisfação de vontades. . Que as características pessoais podem propiciar muita felicidade. Que os bens materiais propiciam felicidade, sim, mas a um custo muito alto e, muitas vezes, com custo/benefício extremamente prejudicial. Se o ser humano não puder acreditar nisso, o egoísmo continuará dominando-o em detrimento da solidariedade.
A solidariedade não impede conquistas. Elas fazem parte da vida e desejá-las parece inato ao ser humano. A diferença é que o egoísmo pretende que a conquista beneficie o indivíduo, enquanto a solidariedade, pretende distribuir o conquistado. Mesmo na solidariedade, sempre haverá a conquista individual, benéfica ao indivíduo e não prejudicial à coletividade.
O jogador de futebol, ao marcar um gol, estará ajudando seu time, enquanto recebe admiração, reconhecimento e elogios.
A cozinheira, preparando uma refeição saborosa, propiciará prazer a quem a degustar, a ela mesma e, ainda, receberá os elogios, admiração e reconhecimento.
O amor sexual é individual pra dois, sem prejuízos para a coletividade.

Há problemas, causados pelo mistério, imcompreensíveis ao entendimento humano, cujos males são inevitáveis. Quanto a isso, só resta tentar minimizar os efeitos e preparar-se para suportar as conseqüências. Ainda nesses casos, a solidariedade é muito mais benéfica do que o egoísmo.
Quando alguém se apaixona por alguém, que é amor de outra pessoa, o problema está criado e alguém sairá ferido. É praticamente impossível evitar o sofrimento. No entanto, a compreensão e a solidariedade poderão ajudar a minimizá-lo. O egoísmo, ao contrário, tenderá a provocar verdadeira tragédia, acentuando o sofrimento, intensificando-o e prolongando-o.

É evidente que o egoísmo tem prevalecido sobre a solidariedade, historicamente. O que provoca que, excepcionalmente, surjam pessoas que contrariam a regra e se dedicam a lutar pelo próximo, em detrimento de seus interesses pessoais, até, contra eles? Que repudiam o egoísmo e se entregam de corpo e alma à solidariedade?
O que fez com que Che Guevara, Martin Luter King, Madre Tereza de Caucutá, Frei Damião, entre outros; dedicassem sua vida ao próximo, integralmente, com o sacrifício da própria vida?
Não é difícil constatar, sem blasfema, que Gabeira e muitos de seus companheiros, sofreram mais que Jesus Cristo. Foram longo tempo de torturas físicas e psicológicas e, muitos, não sobreviveram. O que os levou a isso, enquanto a esmagadora maioria nem se interessava pelo que estava acontecendo?

Parte dos revolucionários era idealista, questionava a ditadura, suas causas, interesses e efeitos. Defendia teses que indicavam soluções e argumentavam em sua defesa. Por outro lado, havia os que eram crentes fanáticos, aceitavam a ideologia e a seguiam com fé, sem compreendê-la. Decoravam a doutrina e a pregavam com louvor e fanatismo.
Do lado da repressão, acontecia a mesma coisa. Havia idealistas que defendiam teses e argumentavam racionalmente para defendê-las. Outros, aceitavam a doutrina e a seguiam com fé.
A diferença fundamental é que os revolucionários acreditavam na capacidade do indivíduo para administrar sua vida e a sociedade, enquanto os reacionários, defendiam que o povo deve ser guiado, não tem capacidade para decidir pelo que lhe é melhor, tem que Ter a liberdade restringida para evitar que cometa erros e deve ser guiado pelos melhores caminhos.
Para os revolucionários, o povo teria que participar de tudo, discutindo, opinando, escolhendo, sendo ativo e participando de tudo. Os reacionários pretendiam que o povo fosse controlado, mantido afastado das discussões, obedecendo as orientações de um grupo de pessoas capacitadas a escolher e definir o que seria melhor para todos.
Uma evidência salta aos olhos: independente dos muitos erros cometidos pelos dois lados, parece que o fundamental foi que os revolucionários pretendiam a ação do povo, enquanto os reacionários exploraram sua inércia. A inércia ganhou de goleada.

Era de lei, o Zeca só levantava da cama depois que a mãe tirava as cobertas e lhe sapecava um tapa na bunda. Não precisava o segundo, um só bastava, bem forte.
Se a mãe não estivesse olhando, ele só lavava a escova de dentes, passava a ponta dos dedos molhados na cara, deixando a ramela no lugar e passava a mão nos cabelos.
Punha farinha de milho numa caneca de quase meio litro, até a metade, mais ou menos, e completava com leite quente, misturando um pouco de leite frio pra amornar. Metia a colher na caneca enchendo-a com a mistura, aproximava-a dos lábios e aspirava o conteúdo, como uma draga, fazendo o barulho característico, bem alto. Era difícil o dia em que ele não derramava um pouco da mistura na camiseta, que passava a mão por cima, como pra limpá-la, espalhando a mancha.
Pegava o caderno, sujo e com os cantos das folhas e capas arrepiadas, enfiava o lápis no bolso dizia um “bença mãe” e saia pro terreiro em direção à estrada por onde caminharia por meia hora até a escola.
Andava chutando as pedras do caminho, com o pé esquerdo chutava pra direita e com o direito pra esquerda. De vez em quando se abaixava, pegava uma pedra com a mão e a atirava em algo que lhe parecesse merecer a pedrada.
Numa manhã, ele percebeu um movimento no mato. Pegou uma pedra e atirou-a na direção do movimento. Escutou um grito de gente e correu como quem corre de alma penada.
A pedrada tinha acertado o seu Dito, que carpia a roça de milho na beira da estrada e, ao sentir vontade de descarregar a barriga, agachara-se atrás de uma moita. A pedrada acertara-o no joelho e ele caiu sentado sobre o que já havia descarregado. O joelho doera, mas o pior fôra o susto e a lambuzeira no traseiro.
Claro que ninguém teve dúvida sobre quem teria dado a pedrada.
Na volta da escola, o seu Dito o cercou na estrada com uma vara na mão. O Zeca parou a uma distância segura e perguntou com a cara mais inocente do mundo o porque do seu Dito estar bravo.
- Num si faiz di tonto seu capetado! Ocê mi acertô uma pedrada hoje cedo.
- Onde?
- Nu jueio!
- Mais, ondé Qui o siô tava?
- Atrais da moita.
- Fazeno u que?
- As necissidade ué!
- I cumé qui eu pudia sabê Qui u siô tava lá?
- I praquê ficá dano pedrada no mato?
- Oi seu Dito. Vô contá uma coisa pro siô. Tem um gambá que anda comeno os ovo das galinha da mãe. Faiz tempo Qui venho campiano ele. Hoji cedo vi ele travessano a istrada i entrá no mato. Catei a pedra e atirei nele. O siô num viu ele, quando tava baixado atraiz da moita?
- Num vi nada!
- Intão o mardito iscapô di novo! Nois precisa dá um jeito di matá esse mardito. Ele tá cumeno tudo os ovo da mãe i. num demora nada, vai comê os do siô tamém. O siô sabe que gambá é bicho disgraçado, num dá sucego i caba cos ovo e os pintinho. Nóis tem Qui dá um jeito di matá ele seu Dito!
- Dexa di safadeza muleque! Todo mundo sabi Qui ucê vive inventano estória pra discurpá as merda co cê faiz. Mai eu ocê num vai inrolá não. Vô ti acertá uma varada procê aprendê a num faze coisa errada. – e partiu pra cima do Zeca, que correu um pouco e se enfiou atrás de uma moita. Quando seu Dito corria de um lado, ele dava a volta na moita. Quando seu dito corria do outro, ela corria ao contrário, gritando para o seu Dito parar e ouvi-lo. Quando seu Dito cansou e parou, o Zeca disse:
- Eu sei Qui já inventei muita estória, seu Dito. Mas essa di agora num é inventada não! O siô pode acreditá! Pra Qui Qui eu ia dá uma pedrada no siô? Cumé Qui eu ia sabê Qui o siô tava atraiz da moita? Credita im mim seu Dito, juro pra arma da mãe Qui é verdade! – Enquanto falava, fazia cara de anjo, de coitado, de injustiçado, de dar pena.
Seu Dito balançou a cabeça, esfregou as orelhas com as palmas das mãos, olhou pra cara de anjo injustiçado que o Zeca fazia e pensou: “Quem sabe se daquela vez não era verdade?”. Voltou pra estrada dizendo:
- Oi Qui muleque! Cê toma vergonha nessa cara! Na próxima Qui ucê aprontá, vou te dá de pau. Num vai se di vara não! Vai se di pau!
Na escola, o Zeca era o tormento da professora. Vivia discordando do que ela dizia, com autoridade de quem sabe tudo. Argumentava de tal maneira que, muitas vezes, a professora chegava a duvidar da sua sanidade mental. Dela, pois o dele ela tinha certeza que estava destrambelhado.
Quando a professora ensinava a tabuada do dois, escreveu-a na louza e pedia para os alunos repetirem com ela: “duas vezes um, dois; duas vezes dois, quatro...duas vezes dez, vinte”. Pois, o Zeca levantou e disse, com todas as letras, que estav errado. Que dois é dois, não importa quantas vezes ele seja repetido. Dois é dois. Três vezes dois, é o dois três vezes, três dois. Cinco vezes dois é dois, cinco dois. Como é que o dois poderia virar outra coisa? Dois é dois, não importando quantas vezes, é dois.
A professora, de boca aberta, não conseguia falar diante de tamanho absurdo. O Zeca continuou argumentando em defesa da sua tese:
- Onde já se viu! Qué dize Qui duas melancia é uma abobra? Cinco laranja éum tomate? Deiz galinha é um bezerro? Discurpe fessora, mais u quei a siora tá dizeno, tá errado!
Outra vez, ao ensinar a operação de divisão, a professora perguntou ao Zeca:
- Se eu te der cinco balas para que você as divida por duas crianças, quantas balas sobrarão?
- Nenhuma fessora.
A professora repetia a pergunta e o Zeca, a mesma resposta. A professora pediu ao Zeca que se aproximasse da mesa, pegou cinco pedaços de giz e pediu que ele mostrasse a operação. Ele separou dois pedaços de um lado, dois do outro e enfiou o restante no bolso e concluiu:
- Dois pra cada um e um pra mim.
- Mas tinha que sobrar um.
- Mais a sinhora memo viu Qui num sobrô!
- Porque você guardou a sobra no bolso!
- Ué! Fui eu Qui fiz a divisão, intão fico co Qui sobrô, i num sobra nada. A siora tá veno argum pedaço de giz em cima da mesa?
Não havia argumentos que convencessem o Zeca do contrário. Ele apelava para os argumentos mais malucos, mas não arredava pé de suas convicções.
Quando a professora afirmou que a Terra girava em torno do sol, o Zeca quase morreu de rir. Gargalhava tanto, num ataque de riso, que chegou a cair da cadeira e continuou a gargalhar no chão. A professora mandava que parasse de rir, mas ele não parava. Não é que não quisesse, é que não conseguia. Não teve outro jeito: a professora colocou-o pra fora, até que a crise passasse. Quase no final da aula, quando a crise passara, a professora chamou-o e lhe perguntou sobre o que ocasionara aquela crise de riso.
- Ah fessora! A siora fala uma bobagem daquela i qué Qui a gente não ri?
- Que bobagem?
- Qui a Terra vira im vorta do sol.
- Mas é isso mesmo que acontece.
- Ah fessora! Cumé Qui é isso quei acontece? A gente vê tudo dia o sol aparecê atrás do morro do Bendito, passa por cima di nois i vai si iscondê por trais da pedra virada. Tudo mundo vê isso, só a siora Qui num vê?
- Isso, Zeca, é o que a gente vê, no entanto o que causa isso é o movimento da Terra em torno do sol. Parece que o sol é que está andando, mas na verdade, é o contrário: a Terra é que está girando em torno do sol.
- Fessora, a siora vai mi discurpá. Mais a siora acha Qui devo di acreditá nu Qui a siora fala, im veiz di acreditá nu Qui meus óio tá veno?
- Eu estou dizendo que é assim! E é assim! Isso está mais que provado pela ciência e não cabe discussão a respeito.
- Tá bom. Si a siora qué Qui eu diga Qui credito, eu digo. Mais, creditá mermo, num credito não! Meus óio tá veno uma coisa direitinho, o sol atravessano de um lado pro outro, e eu tenho Qui creditá Qui é a Terra Qui tá andando em vorta dele? Eu falo Qui credito, mas num credito não!
Dá pra imaginar o quanto o Zeca riu quando a professora disse que a Terra era redonda, uma bola com os pólos achatados. Mais uma vez ele teve que ser retirado da sala, o que, aliás, acontecia na maioria dos dias.
Ele não acredita, até hoje, que a Terra seja redonda, que quem vive no hemisfério sul, está de cabeça pra baixo e não cai. Como é que podia acreditar nisso, se ele estava empezinho ali na sala. Não teve argumento que o convencesse e ele continua acreditando que a Terra é uma espécie de disco, cheio de morros e buracos, mas que não é redonda, não é! Se fosse uma bola mesmo, já teria caído tudo; não haveria mais nada aqui. “Bestera bestera, bestera!” ele diz até hoje quando alguém se refere a isso.